Eu nunca me arrependo do que eu expresso nos textos, acho sempre que cada linha foi como um retrato do que sentia naquele momento. Cada texto é um recorte de tempo e escrever é um exercício de entrega, se não é para deixar algo de si no papel é melhor nem gastar a caneta. Um texto pode transbordar a dor ou expor a felicidade, mas nunca é possível escrever um texto com indiferença. Por mais anônimo que seja a autora ou autor, a “assinatura” vai estar sempre lá espalhada em cada linha. Escrever é se mostrar da forma mais desnuda e sincera, porque para um bom leitor até as palavras contrária ao que realmente se sente ficam expostas. Então não há tempo para se negar o que se escreve, sejamos bondosos com nós mesmos dentro das nossas limitações e desejos. Não há borracha que apague o que já foi lido.
Já me permiti ser lida talvez em todos os meus momentos de fragilidade, e mesmo se eu não abrisse a boca quem me conhece saberia que eu tinha algo a dizer. A minha melhor forma de me mostrar sempre foi a escrita, é meu meio de comunicação mais honesto, mas talvez não o mais eficaz. O problema é que escrever em momentos de “tempestade” pode muitas vezes nos fazer perder a dosagem. Eu posso não me arrepender do que escrevi, mas voltaria no tempo para me deixar ser lida.
Fins e recomeços são tão naturais na minha vida que eu deveria ter separado um lugar no armário para eles, mas prefiro dividir o vinho, as noites de insônia, as crises de ansiedade e os textos ruins que brotam no meio de tudo isso. E cada momento desses sempre vai ter uma trilha sonora, porque minha memória afetiva é musical. Eu assumo até que estava com saudades de escrever aqui, até porque esse blog acumula uma década de recortes da minha vida e registrar algo aqui sempre foi como assinar os momentos em duas vias. Só de fato ocorre quando conseguimos expressar, se passamos batidos por um acontecimento ele simplesmente só foi pra compor cenário.
Eu demoro a escrever porque tenho o péssimo hábito de ficar procurando parágrafos elaborados para escrever o óbvio. Talvez a vida se complique nesse meio tempo em que a gente perde oportunidades por querer enfeitar demais as coisas. Será que a distância entre a gente e um momento feliz é a simplicidade de aceitar as coisas como elas são, puras e simples? Provavelmente a gente só precise da casualidade de um dia comum.
Dias clichês não fazem mal a ninguém. Ficar buscando profundidade em todos os momentos só torna tudo um peso, um fardo desnecessário quando se pode dar de cara com o sorriso em meio a coisas simples. Eu passei mais de dois anos procurando sentido em uma imensidão que eu desconhecia, mergulhando no vazio e nadando em um turbilhão de coisas que eu não tinha a menor condição de lidar. Eu bati palma para maluco dançar e quase entrei na dança também.
Em meio a tudo isso eu demorei a perceber que os meus melhores sorrisos vinham de um lugar que eu já conhecia, do que já estava bem na minha frente. Quando a gente fica fantasiando e floreando a vida, se esquece de prestar atenção no óbvio.
Eu nunca sigo “auê” por cantores e bandas, eu escuto o que de alguma forma me chama atenção, o que me diz algo. Não tenho a menor paciência para seguir multidão quando o assunto é música. Para mim, é algo tão íntimo que mesmo quando indicamos uma música a alguém é querendo mostrar algo de nós para o outro, nem que seja aquela empolgação que sentimos ao ouvir uma determinada letra ou batida pela primeira vez. Letras e ritmos podem criar sentido ou se ressignificar de acordo com nossas experiências. E foi me deixando viver o mais simples que eu tive meu encontro com o trabalho do duo Anavitória.
Ana Caetano e Vitória Falcão fazem um som muito honesto e são a prova de que entre o honesto e o medíocre existe uma imensidão de distância. As pessoas inclusive andam perdendo a mão nisso, procurando problema onde não tem e de repente todos parecem ter virado filhotes de crítico musical. Não gostar das melodias é uma coisa que cada um sabe o que lhe apetece, mas será que também não estamos diante de uma histeria coletiva às avessas? A geração que é poser até para odiar.
A maneira com a qual as novas vozes da MPB estão se popularizando tem difundido um discurso fast food que torna viral acelerando likes ou conquistando haters quase na mesma proporção. Se ama ou se odeia, mesmo que nunca tenha se ouvido algo para além da música trilha sonora da novela.
O duo tocantinense traz um pop rural cheio das referências que cresceram imersas. As letras escritas pela Ana Caetano são de uma beleza sútil e parecem se oferecer para a voz de Vitória Falcão. Elas funcionam organicamente, parecem compartilhar a verdade das letras.
Outrória faz parte do segundo álbum do duo intitulado O Tempo é agora, lançado em 2018. A faixa é uma composição da Ana em parceria com o Mike Túlio, do duo OutroEu, que também participou da gravação. A pegada da música é de quem se percebe apaixonado da forma mais inesperada, mas mesmo assim mais gratificante possível. Atire a primeira pedra quem nunca sentiu aquela felicidade “besta” de sorrir para si mesmo ao perceber que naquele momento havia encontrado alguém que fizesse todos os clichês de uma comédia romântica fazerem sentido.
Na rota que eu trilhei nos últimos anos, a melhor lição que eu trouxe na bagagem foi a de não tolher sentimento, porque isso é mesquinharia comigo mesma e com a outra pessoa. Mas isso carrega em si uma responsabilidade de saber lidar com os ecos do que se fala. E eu errei feio, errei rude, porque existe uma distância muito grande entre sentir e invadir o espaço do outro. Eu escrevo agora pelo que sinto, mas ainda mais para me desculpar, porque vez ou outra damos uma sorte e a vida nos presenteia com pessoas que tornam nossos dias mais leves. Nem nos questionamos como elas entram em nossas vidas, mas sabemos a diferença que é quando elas se recolhem e silenciam.
O Tempo é o mais lindo dos deuses e ele nos embala com som de calmaria. Na correria, na pressa com cheiro e gosto de ego, a gente acaba perdendo um dos movimentos mais belos que existem, que é ver e sentir alguém chegar. O turbilhão que nos perdemos e nos engole com tanta intensidade destreina nossos sentidos, tão ansiosos que deixam detalhes como esses passarem despercebidos.
Como diria minha mãe, “Alice, você é um touro. Na ânsia de ver o peixinho dourado, Touros patinam no piso da sala de estar e quebram o pé da cristaleira, jogando tudo no chão. Inclusive o peixinho dourado que ele tanto queria ver estava em cima da cristaleira”. E eu me sinto decepcionada por isso. Não é sobre ter, porque não se encastela pessoas, mas sobre a indelicadeza que não apenas machuca o outro, mas me fere por saber que não agi da maneira correta. O ônus da intensidade é sentir a água escorrer pelos dedos e não ser capaz de bebê-lá.
Já me permiti ser lida talvez em todos os meus momentos de fragilidade, e mesmo se eu não abrisse a boca quem me conhece saberia que eu tinha algo a dizer. A minha melhor forma de me mostrar sempre foi a escrita, é meu meio de comunicação mais honesto, mas talvez não o mais eficaz. O problema é que escrever em momentos de “tempestade” pode muitas vezes nos fazer perder a dosagem. Eu posso não me arrepender do que escrevi, mas voltaria no tempo para me deixar ser lida.
Fins e recomeços são tão naturais na minha vida que eu deveria ter separado um lugar no armário para eles, mas prefiro dividir o vinho, as noites de insônia, as crises de ansiedade e os textos ruins que brotam no meio de tudo isso. E cada momento desses sempre vai ter uma trilha sonora, porque minha memória afetiva é musical. Eu assumo até que estava com saudades de escrever aqui, até porque esse blog acumula uma década de recortes da minha vida e registrar algo aqui sempre foi como assinar os momentos em duas vias. Só de fato ocorre quando conseguimos expressar, se passamos batidos por um acontecimento ele simplesmente só foi pra compor cenário.
Eu demoro a escrever porque tenho o péssimo hábito de ficar procurando parágrafos elaborados para escrever o óbvio. Talvez a vida se complique nesse meio tempo em que a gente perde oportunidades por querer enfeitar demais as coisas. Será que a distância entre a gente e um momento feliz é a simplicidade de aceitar as coisas como elas são, puras e simples? Provavelmente a gente só precise da casualidade de um dia comum.
Dias clichês não fazem mal a ninguém. Ficar buscando profundidade em todos os momentos só torna tudo um peso, um fardo desnecessário quando se pode dar de cara com o sorriso em meio a coisas simples. Eu passei mais de dois anos procurando sentido em uma imensidão que eu desconhecia, mergulhando no vazio e nadando em um turbilhão de coisas que eu não tinha a menor condição de lidar. Eu bati palma para maluco dançar e quase entrei na dança também.
Em meio a tudo isso eu demorei a perceber que os meus melhores sorrisos vinham de um lugar que eu já conhecia, do que já estava bem na minha frente. Quando a gente fica fantasiando e floreando a vida, se esquece de prestar atenção no óbvio.
Eu nunca sigo “auê” por cantores e bandas, eu escuto o que de alguma forma me chama atenção, o que me diz algo. Não tenho a menor paciência para seguir multidão quando o assunto é música. Para mim, é algo tão íntimo que mesmo quando indicamos uma música a alguém é querendo mostrar algo de nós para o outro, nem que seja aquela empolgação que sentimos ao ouvir uma determinada letra ou batida pela primeira vez. Letras e ritmos podem criar sentido ou se ressignificar de acordo com nossas experiências. E foi me deixando viver o mais simples que eu tive meu encontro com o trabalho do duo Anavitória.
Ana Caetano e Vitória Falcão fazem um som muito honesto e são a prova de que entre o honesto e o medíocre existe uma imensidão de distância. As pessoas inclusive andam perdendo a mão nisso, procurando problema onde não tem e de repente todos parecem ter virado filhotes de crítico musical. Não gostar das melodias é uma coisa que cada um sabe o que lhe apetece, mas será que também não estamos diante de uma histeria coletiva às avessas? A geração que é poser até para odiar.
A maneira com a qual as novas vozes da MPB estão se popularizando tem difundido um discurso fast food que torna viral acelerando likes ou conquistando haters quase na mesma proporção. Se ama ou se odeia, mesmo que nunca tenha se ouvido algo para além da música trilha sonora da novela.
O duo tocantinense traz um pop rural cheio das referências que cresceram imersas. As letras escritas pela Ana Caetano são de uma beleza sútil e parecem se oferecer para a voz de Vitória Falcão. Elas funcionam organicamente, parecem compartilhar a verdade das letras.
O meu ar te embaça de perto
Senti o que é amor então
Eu nunca vi ninguém
Fazer tanto barulho num só coração
Teu cuidado é desastre
É zona sem hora, sem onde
E agora
Outrória faz parte do segundo álbum do duo intitulado O Tempo é agora, lançado em 2018. A faixa é uma composição da Ana em parceria com o Mike Túlio, do duo OutroEu, que também participou da gravação. A pegada da música é de quem se percebe apaixonado da forma mais inesperada, mas mesmo assim mais gratificante possível. Atire a primeira pedra quem nunca sentiu aquela felicidade “besta” de sorrir para si mesmo ao perceber que naquele momento havia encontrado alguém que fizesse todos os clichês de uma comédia romântica fazerem sentido.
Na rota que eu trilhei nos últimos anos, a melhor lição que eu trouxe na bagagem foi a de não tolher sentimento, porque isso é mesquinharia comigo mesma e com a outra pessoa. Mas isso carrega em si uma responsabilidade de saber lidar com os ecos do que se fala. E eu errei feio, errei rude, porque existe uma distância muito grande entre sentir e invadir o espaço do outro. Eu escrevo agora pelo que sinto, mas ainda mais para me desculpar, porque vez ou outra damos uma sorte e a vida nos presenteia com pessoas que tornam nossos dias mais leves. Nem nos questionamos como elas entram em nossas vidas, mas sabemos a diferença que é quando elas se recolhem e silenciam.
O Tempo é o mais lindo dos deuses e ele nos embala com som de calmaria. Na correria, na pressa com cheiro e gosto de ego, a gente acaba perdendo um dos movimentos mais belos que existem, que é ver e sentir alguém chegar. O turbilhão que nos perdemos e nos engole com tanta intensidade destreina nossos sentidos, tão ansiosos que deixam detalhes como esses passarem despercebidos.
Eu nunca vi ninguém
Fazer tanto barulho no meu coração
Teu cuidado é sem grade
É zona, senhora
O entrave que eu passo que eu beijo
E o quanto me leva pro chão
É por isso que eu canto outrória
Como diria minha mãe, “Alice, você é um touro. Na ânsia de ver o peixinho dourado, Touros patinam no piso da sala de estar e quebram o pé da cristaleira, jogando tudo no chão. Inclusive o peixinho dourado que ele tanto queria ver estava em cima da cristaleira”. E eu me sinto decepcionada por isso. Não é sobre ter, porque não se encastela pessoas, mas sobre a indelicadeza que não apenas machuca o outro, mas me fere por saber que não agi da maneira correta. O ônus da intensidade é sentir a água escorrer pelos dedos e não ser capaz de bebê-lá.
1 comentários:
Um escrita que bate nas portas do coração da pessoa, a pessoa abre então ela remexe em tudo... Que coisa maravilhosa de se ler em uma tarde de sábado como essa. Estou emocionada. Que bom que você ainda escreve Alice, torço para que você escreva mais.
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