Depois de 2 longos anos, que
mais poderiam ser chamados de décadas, o blog voltou. A ausência foi um misto
de falta de tempo, falta de coragem e falta de vergonha na cara. Hora de deixar
para trás o peso das mãos e colocar a cara no SOL!!!
Em dois anos, eu poderia dizer
que, acabei por andar mais alguns quarteirões como meu salto Vivienne Westwood.
Com a roda viva girando intensamente, muitas canções me acompanharam e ei de
precisar de algumas dezenas de postagens para atualizar esse eterno diário
musical dos embalos de uma vida toda. Se é para recomeçar e desenferrujar
lacrando, escolhi a mais diva das divas da atual fase da minha vida: Alice
Caymmi, Rainha dos raios e de tudo que há de mais transcendental.
A primeira vez que ouvi Alice
foi há 3 anos, em seu trabalho de estreia o álbum Alice Caymmi. Mas o tempo passou, e com a apresentação fodástica no palco Sunset, durante o Rock In Rio, eu entrei em uma mistura de transe e surto. Não
chorei, só tremia. E foi assim que conheci o Rainha dos Raios. Caymmi entrou de cabeça, corpo e alma nesse
projeto, e isso é tão sensível que não há parâmetros entre esse trabalho e o
álbum de estreia, assim como uma mãe não pode escolher o favorito entre os
filhos.
A verdade seja dita, eu
desenfreei. Entrei em um relacionamento serio com a Rainha e sua sonoridade. A estética, os arranjos, a produção e tudo
que parece rodear o Rainha dos Raios
e a própria Alice nesse trabalho parecem ser tão intrínsecos que me faz pensar
que se algo fosse diferente não daria certo. O álbum parece ter sido trabalhado
todo na entrega de uma artista, única e ao mesmo tempo que faz lembrar a Gal...
AQUELA Gal Costa dos anos 70.
Em Dezembro passado, o nível
de significado desse álbum tomou outra dimensão na minha vida. Meu pai Tiago -DEUSO
SUPREMO e REI DAS GALÁXIAS- estava curioso sobre o que eu andava ouvindo, e
listei minha playlist e disse que ele
tinha que ouvir o Rainha. Mesmo que
na minha frente fizesse aquela cara de enjoo, que só ele poderia fazer, eu
tinha a certeza absoluta que ele ouviria. No outro dia estava lá, ele com o
fone de ouvido plugado no computador e me dizendo “Eu não consigo parar de
escutar essa música! ”.
A música em questão era Iansã. Uma obra prima de Gil e Caetano,
especialmente feita para a própria filha de Oya, Maria Bethânia. Mas a versão
interpretada por Alice leva essa canção a níveis muito mais sérios do que é
sentir a música. Com um arranjo que nem um psicodélico setentista poderia por
defeito e todo trabalhado nos sintetizadores, eu posso apenas chorar aqui e
agora enquanto ouço e escrevo sobre. Janeiro viria, e junto traria a certeza
que essa canção jamais poderia ser esquecida por mim.
Assim como a interpretação e o
arranjo da Caymmi para essa canção, meu pai se eternizou. Se equilibrou com a
natureza. Sua passagem me fez refletir sobre o peso desse refrão:
Senhora
das chuvas de junho
Senhora
de tudo dentro de mim
Rainha
dos raios, rainha dos raios
Rainha
dos raios, tempo bom, tempo ruim
Eu
sou o céu para as tuas tempestades
A verdade é que essa é a vida,
estamos sempre em busca do equilíbrio, ou como diria D2, a procura da batida
perfeita. O que não contamos é que esse equilíbrio só existe na morte, quando infalivelmente equilibramos com o universo. Mas já que aqui estamos, vivos,
tudo que podemos esperar da vida são tempos bons e tempos ruins. Lagrimas e
Sorrisos.... Abraços e despedidas. E se quisermos aproveitar, esse bilhete único
chamado vida, temos que nos jogar e tornarmos um só com aquilo que projetamos,
queremos e amamos.
Para
o maior gênio que pisou na Terra, meu herói e meu pai. Tiago De Melo Gomes.
3 comentários:
Então você bloga Alice! E que texto bonito de se ler, faz ter vontade de correr atrás do som da Caymmi. Um professor meu é louco pela Betânia e graças a ele ouvi ela cantado Iansã e a força da interpretação misturada a poesia da letra me causou arrepios então...
Ah, acho tão cansativo esse exercício diário que é viver, mas depois que superamos a parte mais difícil, acordar e levantar da cama, as outras coisas são para ser feitas com gosto e força. A Morte é um destino comum a todos nós, o caminho é uma escolha.
Parabéns pelo texto, escreva mais...
Cheros.
Emocionada aqui! Obrigada! Beijos!
Sugiro que ouça isso (https://www.youtube.com/watch?v=znba9GTyFDw)
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