sábado, 6 de agosto de 2016

Gilberto Gil| As vezes precisamos fechar uns livros para escrever novas histórias



Em outra oportunidade eu escrevi sobre o quanto é difícil dizer adeus. O peso do fechamento de ciclos recai sobre nossas costas em forma da responsabilidade pela felicidade do outro. Como somos presunçosos. Na verdade, a gente compra a ideia de sermos insubstituíveis, talvez seja aí que viva nossa insegurança e tormento quando nos damos conta de que não podemos mais seguir em frente. Mas sabe, talvez a gente só observe o quanto ama ao sorrir vendo o outro ir rumo ao seu caminho.

Em 1981, durante sua separação com Sandra Gadelha, Gilberto Gil escreveu aquela, que para mim, é sua obra prima. Drão é uma daquelas joias que o universo nos presenteia e suavizam a vida. O interessante é que a música só foi lançada em 1982, no disco Uma Banda Um, que traz também Andar com fé e Esotérico. Um ano antes, no álbum Luar, Gil havia feito uma homenagem a sua nova esposa, Flora. Foi música para amor novo, paixão de descoberta. Mas foi com Drão que o amor veio em sua forma mais profunda. Foi música para sentimento desprendido. Canção para amor que não morre, mas se renova.

Gil escreveu sobre um sentimento que libera, deixa ir. Não foi falta de amor, mas a transformação dele em um amor que de tão sublime e puro não poderia mais ficar preso aos padrões. Era amor para além de anel na mão esquerda.


O amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura

Essa semana me dei conta disso na minha vida. Eu também já escrevi sobre o quanto eu sempre tive dificuldade de terminar relações por puro egoísmo. Sim, aquele sentimento de não conseguir ver a outra pessoa recomeçar com outro alguém. Então, por esses dias eu me peguei sorrindo por ver alguém se apaixonando novamente, recomeçando depois da dor do fim. Foi importante para mim perceber que nosso relacionamento terminou, mas foi na verdade o final de um ciclo para dar espaço a novas possibilidades. Amar é isso também, o sorrir pelo outro e torcer pela felicidade.

Tem pessoas que passam nas nossas vidas e deixam rastros. Algumas vezes, são rastros de amor, em outras é destruição. O amor pode se manifestar em diversas formas. As vezes a gente se quer corporalmente, ama a presença e o estado de espirito. Em outras vezes o amor é o querer bem, só a oportunidade de respirar o mesmo ar. Para esse último, nenhuma palavra precisa ser dita, só ver o outro bem basta. Foi isso que aconteceu, o desejo físico se foi, aquele que queima e não dói, mas deu lugar a um amor sem desejo de pele. Agora é amor de querer bem sem saber como e sem ver quem. Amor que amadurece e permanece vivo, mas de outra forma.


Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura


Eu sou uma pessoa dura comigo mesma, sempre fui. Uma exigência, cobrança de quem nunca teve o direito de errar. Não precisaram colocar arma na minha cabeça ou gritarem comigo, eu simplesmente sabia que diante de quem eu sempre fui eu não poderia dar margem para ser ainda mais trucidada. Isso fez com que eu também ficasse rígida em me permitir errar em relacionamentos. Errar no sentido de entender que as vezes a gente não é o suficiente, não somos infalíveis. O ser humano se acha insubstituível, né? A gente acha que pode ser melhor para alguém do que qualquer outro ser humano. Que bosta. Somos efêmeros, como a própria vida.


Pois é, eu caí na real, e me deixe assumir uma coisa: foi muito bom. Como foi bom ficar feliz em ver aquele amar ir semear em outro campo. Foi perceber que nosso amor amadureceu a ponto de desprender e tentar seguir a caminhadura. O caminho que é árduo, porque requer abrir mão, mas como todo caminho precisamos seguir em frente e nos permitir achar novas possibilidades. É amor sem rótulo e sem algema. É amor que permanece, para além do ficar fisicamente. Ele fica em forma de sorrisos e lembranças.  

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