terça-feira, 5 de julho de 2016

Pensamentos| Crônica de uma noite de insônia


E você deita, se permite cochilar e acorda 3 horas depois e se pergunta: e agora? Sinceramente? Não sei. Não faço a mínima ideia de como será daqui para frente. Pela primeira vez em quase um ano eu sentei e percebi que não tinha nada para fazer por alguns dias. É tão estranho ter essa sensação depois de meses vivendo em uma velocidade alucinante, que eu ainda não posso acreditar. É aquele mesmo sentimento de quando você sai de casa e fica se perguntando se esqueceu algo. É uma paz que a gente fica relutando a imaginar se merecemos.

Os últimos 6 meses foram os mais tristes, velozes e intensos da minha vida. Mas também foram momentos de autoconhecimento, encontros de alma e fim de ciclo. Por isso tudo, foi tão estranho sentar hoje e perceber que terei alguns dias para me permitir o ócio, sumir se necessário for. Há tempos sonhava com esse momento, mas não imaginava que ele chegaria ao pestanejar dos meus olhos.

Fevereiro tardou a se fechar, e para falar bem a verdade, não acredito que fevereiro de 2016 se encerre na minha vida. Vai ser sempre uma lacuna aberta, uma ferida magoada. As pessoas talvez não entendam, mas eu me nego a falar sobre tudo aquilo, me dói muito, não gosto e simplesmente não quero ter de lidar. Não agora. Tudo foi tão insano que ainda me pergunto como consegui viver aqueles dias. Não há nada, humanamente falando, que responda. Eu estou só tentando viver um dia após outro. Tento seguir uma rotina, ocupar a mente, fazer coisas que antes não me esforçaria para fazer. Tento me divertir e fazer piada de mim mesma, porque a vida se tornou tão dura. A vida virou um circo sem palhaços e onde eu tive que me tornar a equilibrista.

Quando as pessoas perguntam se eu estou bem acho injusto dizer algo diferente do sim. Porque no meio disso tudo eu aprendi a ser grata aos mínimos presentes que a vida me dá. Ela nos tira bastante, porções que pensamos que não daremos conta viver sem, mas ela também nos recompensa com pessoas e gestos de amor. Eu estou me permitindo viver esses sentimentos novamente, preciso deles. Encontrei pessoas incríveis e que me abriram os braços durante todo esse processo. Então, como eu poderia ser ingrata em reclamar?

Algumas fagulhas andam faiscando aqui dentro. Não sei definir muito bem ainda, pois é um misto de admiração, paixão e respeito. Só sei que tirar de mim alguns sorrisos frouxos e alguns longos textos. No final das contas, minhas emoções sempre me trazem de volta para escrita, como se eu precisasse materializar todas minhas ideias para poder enxerga-las com clareza. Mas gosto dessa sensação, ela dá uma noção de estar vivendo novamente, e isso não depende de reciprocidade, até porque sentimentos não precisam da via de mão dupla para existirem, eles simplesmente existem e tomam conta dos dias.

Eira e beira
Onde era mata hoje é Bonfim
De onde meu povo espreitava baleias
É farol que desnorteia a mim

E no meio disso tudo, eu estou aqui sem sono, ou talvez eu apenas precise organizar essas ideias para me deixar descansar finalmente. Maria Bethânia está cantando suas águas. Kirimurê chega dói de tão linda que é. Me faz pensar sobre 2 de julho e remete aos reencontros que a vida me permitiu. Como eu poderia reclamar de uma vida que me presenteou com tantas descobertas sobre mim mesma? Não acho que teria esse direito. Por mais dores que eu tenha que carregar comigo, no final das contas todo o aprendizado e todos os amores que emanaram para mim já valeriam.

Imagina que hoje eu estava ouvindo uma das minhas bandas favoritas, os mexicanos da Zoé, e fiquei aqui com cara de quem viu a fanfarra passar. Porque Lábios Rotos faz todo sentido do mundo agora. Porque a gente se vê querendo cuidar e proteger os outros, ou uma pessoa em especial. Eu tenho esse pavor de magoar as pessoas, o que muitas vezes me faz recuar. Sim, eu não sou essa pessoa inquebrável que consegue não se importar, dói muito para mim perceber que minhas palavras ou ações podem machucar alguém. Acho muito válido usar as palavras desculpa e perdão. Elas não matam. O que também não quer dizer que eu não tenha um gênio dos infernos...

Entrégame tus labios rotos los quiero besar,
Los quiero curar, los voy a cuidar
Con todo mi amor

Voltar a ter uma vida social descente provavelmente tem sido o maior dos esforços, porque a depressão e as crises de ansiedade não nos permitem exercer toda a liberdade que desejamos. Então é uma luta diária. Minha vida ganhou o seguinte mantra “um passo de cada vez e todos os passos por ele”, é uma forma de me lembrar que eu não estou só nessa jornada insana. Desse jeito eu me esforço ao máximo para não me deixar abater, forço todas as minhas próprias barras.

Se eu tocar no seu radinho
Vai ser tão bom confia em mim
Posso preencher todo o espaço
O calor do meu abraço te deixa feliz
Aperta o play e me diz você

No meio das últimas que forcei, acabei me encantando por Tássia Reis, essa figura maravilhosa que dispara “lacração” a cada frase do seu rap. Imagina só, No seu radinho já virou meu hino a permissão amorosa. Por que não?

Não é um balanço do semestre, mas uma crônica de uma noite que dormir não seria possível sem a materialização das ideias. No meio disso tudo eu poderia resumir minha vida nos últimos meses entre um reencontro maternal, os amores incondicionais que descobri no meio da dor, o subir um degrau na minha escala de satisfação pessoal e ter de lidar com uma vésper feroz. O derramamento de palavras é necessário para fazer transbordar umas emoções ainda não explicadas, saradas e amadurecidas. E assim eu vou tentando seguir o fluxo das minhas vontades e necessidades, porque isso é a direção dada pelo nosso amálgama formador. Qual o próximo passo? Não sei. Estou só tentando respirar um pouco de cada vez, mas já tenho motivos o suficiente para continuar caminhando.  

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