sábado, 9 de julho de 2016

Janis Joplin| No final das contas, a gente só enxerga quem a gente quer


Como eu sempre digo, a gente sempre pode reciclar o papel de trouxa. Podemos fazer origamis ou escrever um livro. E se nossas paixões cercadas de platonismo ou grandes quebras de cabeças pudessem ter uma trilha oficial, ela seria na voz de Janis Joplin. Piece of my heart é o hino e um murro no meio da cara.


Didn't I make you feel like you were the only man? yeah!
An' didn't I give you nearly everything
that a woman possibly can?
Honey, you know I did!


Não adianta, por mais que eu possa tentar ser racional, existe algo que me atrai para o desconhecido. O descobrir, o tatear no escuro, é onde habita toda minha intensidade. Mas por vezes a decepção ou a impossibilidade é o que se encontra por lá. Essa coisa de ser sutil como uma panda gigante, como eu já mencionei uma outra vez, traz uma permissão de quebra de mim mesma, porque por ser esse tufão de sentimentos, eu acabo deixando com que as pessoas também levem pedaços de mim. E é sobre essa entrega que a canção interpretada por Joplin fala.

A primeira versão da música Piece of my heart foi gravada em 1967, por Erma Franklin -irmão mais velha da Rainha Aretha- e não tem nem de longe o efeito orgástico da cantada por Janis Joplin. Em 1968, a banda Big Brother and the Holding Company, que tinha Janis no vocal, elevou o nível da canção a uma potência estratosférica. É um som para amor de entrega total, não é música para romance de sorveteria.


You're out on the streets looking good
And baby deep down in your heart
I guess you know that it ain't right
Never, never, never, never, never
never hear me when I cry at night
Babe, and I cry all the time!


Janis se mostrava feroz nos vocais, mas a letra que ela canta é quase um grito de socorro. Quantas vezes na vida nos deparamos com pessoas assim, que se mostram como feras indomáveis, mas que na verdade são pássaros de asas quebradas, bichinhos acuados em meio às decepções e agruras da vida. Na linguagem de hoje, Janis séria um “close” de alguém que não queria ter de enfrentar a vida de peito aberto, de tanto que a vida já teria lhe derrubado.

Às vezes tentamos imaginar o que molda as dores dos outros, mas nenhuma abstração pode revelar essas experiências individuais. A empatia não é o suficiente. Eu sou um turbilhão de sentimentos, também fui moldada em meio às lágrimas, e de certa forma tudo isso se transformou em uma vontade de proteger as pessoas. Eu me preocupo muito, daquelas preocupações de querer colocar as pessoas em vidrinhos e levar comigo, o que soa totalmente sem noção da minha parte. Eu assumo minhas insanidades. No frigir dos ovos, eu me apaixono também por essas dores.

E quando me permito ser quebrada, eu vejo e eu sei o que está acontecendo ao meu redor, mesmo quando a sobriedade não é bem o meu estado de consciência. Então deixe eu dizer uma coisa: eu não vejo o que não me interessa. Simplesmente porque eu não sou a pessoa de momento, eu sou uma construção. Eu gosto mesmo é de admirar. Eu não vou sair por aí distribuindo beijos enquanto minha mente estiver ocupada em uma pessoa. Eu sou piegas mesmo e não me envergonho disso.

Pense comigo, existe algo mais lindo do que um cérebro repleto de ideias que fazem você pensar: “poxa, que foda?”. Não existe paixão maior do que admirar alguém e se fazer admirar também. Acho isso imbatível. Nós até podemos nos encantar pela beleza, aquela projeção de poder que emana do rosto e das feições de alguém, mas quando você desbrava os pensamentos dessa pessoa é que se dá o grande encantamento. É nesse momento, quando se conhece, sem as máscaras que a vida lhe obriga a usar, que você tem a real noção do belo que existe dentro desse alguém. É quando aceitamos dar mais um pedaço de nós para quem amamos.


But each time I tell myself that I
well I can't stand the pain
But when you hold me in your arms
I'll sing it once again



Perceber que abrimos mão de nós mesmos por alguém é uma coisa louca, porque muitas vezes isso pode soar distante da nossa própria personalidade, mas a paixão deixa a gente de guarda baixa. Por mais que sempre venhamos a nos sentir bobos em meio a todos esses sentimentos, vamos pensar que deve existir um motivo para enxergarmos algumas pessoas em especial. Assim essa música sempre vai ser um lembrete para nossa capacidade de nos jogarmos nessas paixões insanas que a vida nos oferece, e que sempre vamos deixar que levem mais um pedaço do nosso coração, se preciso for, para manter esse sentimento vivo. 

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