A
música pode ter um sentido para além do entretenimento nos momentos em que o ar
parece faltar. Eu não sei você, mas naqueles dias que tudo parece não ter um
sentido concreto ou a frustração toma conta, escutar algumas canções podem dar
novos contornos e nuances para o momento. Não é sensacionalismo, mas foi assim
que me acostumei a ser, nada é tão natural para mim quanto a música. É como se
as letras fossem mensagens. Como se os sons fossem mantras. A música tem lá seu
tom espiritual, místico. Nunca vou ter a plena noção do quanto isso é
importante para minha vida, eu apenas sei que há canções que para mim soam como
orações.
Nascidas
na França e frutos do casamento do ex-percussionista do Buena Vista Social Club Miguel Anga Díaz e da cantora e empresaria
franco-venezuelana Maya Dagnino, Lisa-Kaindé and Naomi Díaz são dessas divindades
musicais que surgem de tempos em tempos para fazer da música algo muito mais
transcendental do que naturalmente já é. Elas fazem músicas que salvam dias.
As Ibeyi trazem uma sonoridade afro cubana
e contemporânea. Os elementos da cultura Iorubá, presente na Regla de Ocha, norteiam todo o álbum
lançado por elas e formaram a personalidade artística e sonora das gêmeas. Além
da referência cultura iorubana, vários artistas ouvidos por elas desde a
infância também contribuíram para essa musicalidade, entre os quais podemos
citar Os Tribalistas, Nina Simone,
Angélique Kidjo, Elis Regina e os Doces Bárbaros, além de todo panteão da
música cubana, desde Compay Segundo a Chuchu Valdés.
Esses
espíritos pareados trazem louvações à sua ancestralidade. É impossível não
sentir o orgulho e o pertencimento que elas expressam no primeiro álbum lançado
no ano passado. É como retratar o encontro musical entre as raízes
afro-diaspóricas que as circundam, que parecem dar sentido à existência delas,
e todas as influências do jazz e da música eletrônica. É simplesmente lindo e
arrebatador.
Quando
Beyonce as descortinou para o grande público, após divulgar o clipe de River em sua conta do Instagram, Lisa e
Naomi passaram a figurar entre as novas queridinhas do cenário musical. E
integraram o squad de Bey em seu Lemonade. Elas caíram nas graças desde
os críticos especializados até os hipsters.
Enfim, são audíveis para todos os públicos.
Por
esses dias, em meio as minhas divagações pessoais, eu fui “salva” por essas
divindades pareadas franco-cubanas. Foi
como entrar em um estado de relaxamento, onde a dor não nos toca. É algo bem
louco para quem não sente entender, não posso cobrar isso de você,
leitor/leitora. São experiências pessoais. O que eu sei, é que para mim, a música
é um antidoto, um balsamo. Em meio a todas as loucuras, tristezas e decepções,
podem haver canções que curam.
Mesmo
nos dias em que tudo parece mais pesado, frio e do avesso, tentar se deixar
levar por aquilo que lhe conectar com o que há de melhor em você é a pedida.
Fugir dos dias difíceis não é uma opção, enfrentá-los de frente é a realidade.
Se tudo parecer caótico e descontrolado, siga o fluxo de sua consciência, sua
salvação é interna. No meu caso, eu consigo afastar minhas dores quando deixo
os sons falarem por mim. Pode parecer infantil, talvez seja reflexo das ações
da minha mãe quando me acalmava com um pequeno rádio ao lado do berço. Sendo
minha memória afetiva, ou construção da minha personalidade, o certo é que a
música sempre traz dessas surpresas agradáveis que dão novos sons a dias ocos.
Para mim, a música também cura.
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