sábado, 4 de junho de 2016

Beatles| Os 4 cavaleiros e os olhos onde enxerguei a vida


O título pode soar sensacionalista, mas talvez faça algum sentido se você, leitor, me conceder alguns minutos. 3 anos se passaram, mas os Beatles permanecem aqui dentro como um recado constante, e eterno, da impossibilidade e da não concretização. O silencio permanece e os passos continuam distantes. Eu sinto falta daqueles olhos. Foram os olhos onde me descobri, o lugar onde sempre serei grata de ter refletido. Esses olhos me trouxeram para fora.

Não foi um amor platônico. Foi um amor que não pode se prolongar. Doeu muito, dói até hoje. Junho e os Beatles sempre estarão para lembrar isso. Agora estou aqui escutando Don't Let Me Down e isso corta as memórias. Durante todo louco ano de 2013 me dediquei a explorar toda discografia do quarteto mágico de Liverpool, percebi que tudo que veio depois deles tem gosto de feijão de ontem.

Entre 2012 e 2013 eu presentei “os olhos” com inúmeros LPs dos Beatles, e fui aprendendo a cada dia mais sobre eles. Começamos por Please Please Me, e vocês podem lembrar de Twist and Shout, mas quem faz todo sentido para mim é Baby It's You.

It's not the way you smile
That touched my heart
It's not the way you kiss
That tears me apart

Em seguida veio o Natal de 2012 trazendo com ele With the Beatles. Me desculpem, chocolate é bom, mas vocês já estiveram apaixonados e dirigindo ao som de Devil In Her Heart? Eu, por exemplo, me sentia indestrutível. Ouvi esse álbum incontáveis vezes e é de longe o meu favorito da primeira fase dos Beatles. Tinha um recado lá, que eu não levei em consideração. Tinha cheiro do perfume Pink!, da Victoria Secret. Tinha jeito de primeiro amor ao som de Beatles.

She's got the devil in her heart
no, no, this I can't believe
She's gonna tear your heart apart
no, no nay will she deceive

Nossa viagem a Liverpool continuou com A Hard Day's Night. Fevereiro de 2013, Valentine’s Day, os acordes da guitarra de “os olhos” e And I Love Her. Como eu já disse em outra oportunidade, quando escrevi sobre a playlist que criamos, talvez seja um grande erro atrelar canções a pessoas. Pessoas partem, seja do plano físico ou de nosso convívio diário, mas as músicas, ah as músicas... essas ficam eternamente em nossas mentes, ouvidos e reavivam memórias, algumas que creio não querer lembrar.

Bright are the stars that shine
Dark is the sky
I know this love of mine
Will never die
And I love her

Assim como as possibilidades entre nós, os Beatles também estavam em constante mudança. Help! chegou e as transformações na sonoridade do FAB4 ficaram audíveis. Os rifes ficaram mais pesados e os arranjos mais complexos. O Iê, Iê, Iê ainda estava lá, mas não era dominante como nos trabalhos anteriores. É um disco para uma juventude que amadurecia. E no amor, eu ainda acreditava que tudo que era meu daria um jeito de chegar até mim. Talvez, um dia.

How could she say to me
Love will find a way
Gather round all you clowns
Let me hear you say

Rubber Soul foi dado como um presente e como recado. As mudanças estavam tornando tudo mais difícil, mas duro e mais impossível. Me entendam, não há coração que suporte a angustia do amanhã e a incerteza do hoje. É cansativo ter a sensação de salvar seu relacionamento todos os dias. Romanticamente falando, pode parecer um conto de fadas, mas não sei se o príncipe aguentaria a angustia de ter de acordar Aurora, a Bela Adormecida, todos os dias. Não é o esforço, mas a angustia de saber se ela irá mesmo acordar. Isso nos destrói por dentro.
You don't look different
But you have changed
I'm looking through you
You're not the same

Ao passo que as coisas se deterioravam, eu ouvi Revolver atentamente pela primeira vez. Lembro que a motivação do presente era simples: o meu encantamento pela capa do disco. Minha alma psicodélica dando um oi. Os arranjos e a produção de George Martin fazem desse o meu favorito da fase “adulta” dos Beatles. Não era mais música de bailinho, era Rock psicodélico de primeira.  Era a viagem louca que eu precisava, para não ter de dar conta da tragédia anunciada e das lagrimas que vieram.

Mesmo assim, o ultimo presente, a despedida, foi um Lp Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band acompanhado de um cartão que dizia que "assim como todos já esperavam que os Beatles houvessem se esgotado e eles assustaram o mundo com esse disco, eu esperava um dia a surpresa do recomeço e a chance de fazer tudo funcionar como parecia destinado a ser". Poucos meses depois um silenciamento entre nós tornaria tudo mais impossível.

Uma curta história, uma longa postagem, e um sentimento que ainda me incomoda. Acordei na manhã desse sábado pensando sobre os olhos, sobre o sorriso e a frustração. Mas o que ficou foram os Beatles e um amor que se juntou a Pink Floyd (melhor de todos os meus amores musicais). Um amor que se embalou com os Beatles não poderia ser de todo ruim, foi transcendente. Se o silencio entre nós pode um dia terminar? Não sei. Enquanto isso terei os 4 cavaleiros da Rainha para ouvir. 


2 comentários:

Na Nossa Estante disse...

Eu posso incluir essas suas crônicas de sentimentos e musica em meus sábados com muita tranquilidade.... porque comove...

Ana Seerig disse...

Felizmente (acho), minhas associações musicais não são românticas, pelo contrário, elas estão lá pra me lembrar que não vale esperar por algo que jamais pode acontecer.
Sobre Beatles, me lembra The Sims e viagens familiares, lembram meus 10 anos. Mas acho bonito que tu tenha essa associação sentimental às músicas e que saiba escrever tão bem sobre elas.

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