Ontem
um amigo disse a celebre frase “Quem bate não lembra, mas quem apanha recorda”.
Eu não recordava de ter sido muito realista com ele, quando enxergava na minha
frente um relacionamento abusivo em que ele estava entrando. Não cabia a mim
falar nada, talvez tenha falado apenas em um momento de surto, ou quando
“Eugenia” tomou conta. No final das contas, anos se passaram até que minhas
palavras ficaram tão claras para ele quanto Adele e sua Love in the dark.
A
moça de Totteham sempre vem para dizer umas verdades para a gente com suas
letras. Em Love in the dark podemos
olhar nesse espelho, no qual sempre temos medo de nos refletir, que é a
despedida. Dizer adeus é uma tarefa difícil, mesmo que seja diante do
sofrimento.
Não
sabemos deixar as pessoas irem. Não conseguimos permitir que as coisas passem.
Como humanos gostamos de nomear as coisas, assim elas nos pertencem, são
nossas. Nos grudamos as coisas, pessoas, deixamos nossas marcas. Gostamos
dessas relações de pertencimento. Mas elas nos deixam marcas também, profundas
e que não conseguimos lidar.
Take your eyes off me so I can leave
I'm far too ashamed to do it with you watching me
This is never ending, we have been here before
But I can't stay this time 'cause I don't love you anymore
Please, stay where you are
Don't come any closer
Don't try to change my mind
I'm being cruel to be kind
Acho
que também me sinto assim agora. Eu sei que preciso deixar ir várias coisas na
minha vida, mas eu já as nomeei como minhas, as marquei e está dolorido viver o
desapego. É triste enxergar pessoas como coisas. Fazer das pessoas objetos de
nossa estima é o ato mais egoísta que podemos ter. Isso acontece mesmo quando
as relações são insustentáveis, quando já sabemos que não existe amor, apenas a
posse.
Então,
quando chega a hora temos que ter forças para destruir as amarras do nosso
próprio egoísmo. Essa é a pior parte do fim de um relacionamento, por exemplo.
Admita, as vésperas do fim a primeira coisa que você pensa não é se ainda
existe amor, paixão ou a famosa “química”, na verdade a única coisa que você
pensa é o quanto não vai suportar ver o/a ex com outra pessoa.
I can't love you in the dark
It feels like we're oceans apart
There is so much space between us
Maybe we're already defeated
Everything changed me
Para
mim, é nesse momento que as máscaras caem. Quando não sabemos mais como
suportar essas pressões, quando não conseguimos seguir nas cobranças de um
relacionamento perfeito para a rua. Ninguém consegue esconder o que de fato é
durante muito tempo, isso em qualquer recanto de nossa vida.
O
fato é que projetamos nossos sonhos em pessoas. E talvez, por conta disso,
percamos boa parte do nosso tempo batendo com a cabeça em obstáculos criados
por nós mesmos nessa corrida desenfreada pelo acumulo de posse de coisas e
pessoas. No final das contas, o difícil de dizer adeus é perceber que coisas se
acabam, pessoas se vão e nada que é matéria de fato nos pertence. Desapegue.
1 comentários:
Você me lembrou a Elizabeth Bishop (ainda não vi aquele filme sobre ela #memata) quando ela escreveu sobre a "a arte de perder".
A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério. Perca um pouquinho a cada dia.
Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita.
Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe.
Ah! E nem quero Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas.
E um império Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles.
Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo que eu amo) não muda nada.
Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça (Escreve!) muito sério
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