sábado, 14 de maio de 2016

Zé Ramalho| Entre a experiência mística de Zé Ramalho e a minha jornada



Alguns momentos na vida são únicos, é um caminho luminoso, uma ida sem volta. São passagens em uma longa jornada nessa trilha chamada vida. Mas independente das circunstâncias, tudo é aprendizado, tudo é valido, desde que seja para o aprendizado. O crescimento pessoal não vem nos momentos fáceis, ou enquanto relaxamos no sofá. O crescimento e o entendimento existencial vêm das diferentes e turbulentas nuances da nossa vida. Em meio a elas encontramos nós mesmos.

Não posso nem datar o momento em que a musicalidade de Zé Ramalho entrou pela primeira vez nos meus ouvidos.  Ouvi-lo sempre foi algo diferenciado, não a nada de comum nos clássicos compostos por ele. Mas toda essa experiência é levada a outro nível quando o assunto é Avôhai.

Tendo surgido de uma experiência com cogumelos alucinógenos ou não, a verdade é que essa canção, seus símbolos, seus signos só podem ter lógica para quem de alguma forma encontrou seus próprios sentidos.

Um velho cruza a soleira
De botas longas, de barbas longas
De ouro o brilho do seu colar
Na laje fria onde coarava
Sua camisa e seu alforje
De caçador

Em janeiro desse ano, mais exatamente na manhã do sábado dia 30, eu tive um desses encontros. Ele cruzou a porta do hospital usando uma camisa verde e óculos aviador. Ele tremia. Abraça-lo foi uma das coisas mais fortes e intensas que já me ocorreram. O momento era sem dúvida o mais difícil de nossas vidas. Eu no início da jornada. Ele um experiente viajante.

Falamos sobre toda sorte de coisas. Sobre suas viagens, andanças fotográficas. Sobre arquitetura, urbanismo. Falamos sobre o Ocupe Estelita e fizemos os minutos passarem mais leves. Mas ele estava ali pois ansiava por um reencontro, eu esperava para tocar por uma das últimas vezes o ele que nos uniu nessa corrente chamada vida.

O brejo cruza a poeira
De fato existe
Um tom mais leve
Na palidez desse pessoal
Pares de olhos tão profundos
Que amargam as pessoas
Que fitar

Do filho ficou a saudade, o aprendizado para toda a vida, a esperança do reencontro, a gratidão pelo amor incondicional. Do pai tenho o afeto, o carinho, a partilha de ideais. A trinca se formou, para nunca mais deixar de existir.

Avôhai, o avô e o pai. Só se entende o filho que encontra com o pai. Só poderia amar o filho o que ao encontrar também amou o pai. Eles eram um só. Um só EU intempestivo, rápido, ligeiro, sensível, vibrante. Dos seres apaixonantes. Uma alma em dois seres. Avôhai, não pode transferir dor. Para mim, o senhor do abraço tímido e tremulo sempre será um símbolo de transferência de amor.

Para José Roberto Gomes, Avôhai. 


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