Tem coisas na vida que são
inexplicáveis. O amor é a maior delas. E eu tenho vocação para me entregar a
esse mal irremediável, fazendo jus aos astros que me regem. O amor romântico
não é questão, o que falo aqui é da extensão do amor próprio que já havia
escrito sobre durante a postagem anterior. E nessa vibe
do “Eu me amo”, a trilha sonora vem direto das ladeiras de Olinda.
Eu não poderia dizer qual foi
a primeira vez que ouvi Alceu Valença, a voz dele é tão natural e tão familiar
para minhas memórias que não teve um começo especifico, um momento exato. Ele
simplesmente existe na minha cabeça desde sempre. E algumas de suas canções,
assim como ele próprio, funcionam como um fundo musical intrínseco aos momentos
da vida.
Esse momento em especial tem
uma canção martelando na minha mente. Como
dois animais bate forte e me faz querer parar o mundo e viver um pouco
mais.
Uma coisa que tenho muito
clara na mente, é que para amar alguém nós temos que nos amar e exercer esse
amor incondicionalmente em nossas vidas. Posso soar egocêntrica, mas para mim o
amor próprio é essencial. Experimente ficar em um relacionamento com alguém que
abdica dos próprios desejos para viver os seus, na teoria isso parece roteiro
de romance do século XIX, mas viva isso por algum tempo e você descobrirá o
quão enfadonho é. Discordar é saudável, e acredite em mim, fará bem a qualquer
relacionamento poder discutir e depois chegar a um acordo. O amor é um consenso
entre duas pessoas, que silenciosamente decidiram por estarem juntas na
calmaria e na intempérie. Alceu traduziu isso com perfeição
Meu
olhar vagabundo de cachorro vadio
Olhava
a pintada e ela estava no cio
E era
um cão vagabundo e uma onça pintada
Se
amando na praça como os animais...
Existe um mistério entre o
amor e ódio, um abismo onde habitam as incertezas, os medos e a angústia.
Ah.... angústia... o pior dos sentimentos, o sofrer antes da dor, o chorar
antes da morte. Mas quando amamos ele parece ser tão inexpressivo. Amor pode
nascer em meio à guerra. Amar ultrapassa a inteligência humana. Amar é
sobrenatural.
Acredite em mim, você pode
amar em meio ao caos, e tudo parecerá inexistente. Se amar como os animais é
amar instintivamente, e sinceramente não sei se há outra maneira de amar. Se
amar não é um ato instintivo, eu desconheço a outra forma.
Sim, estamos sujeitos a termos
os corações dilacerados, isso sempre. Mas de que valeria a vida se não fossem
os riscos? E aí é onde mora o amor próprio e o estar bem consigo mesmo. É o
saber que o sentimento faz parte e ele poderá existir sem que a concretização
ocorra. Porque no final das contas, quando amamos, todos temos um pouco desse
cachorro vadio, que espera pelo seu momento de viver por instinto, mas que sabe
que precisará ficar pronto para juntar o coração caso se deixe ele em pedaços.
Esse é o lugar onde mora a linha tênue entre o amor romântico e o amor próprio.
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