quarta-feira, 30 de março de 2016

Alceu Valença| O Trovador da Rua de São Bento


Tem coisas na vida que são inexplicáveis. O amor é a maior delas. E eu tenho vocação para me entregar a esse mal irremediável, fazendo jus aos astros que me regem. O amor romântico não é questão, o que falo aqui é da extensão do amor próprio que já havia escrito sobre durante a postagem anterior.  E nessa vibe do “Eu me amo”, a trilha sonora vem direto das ladeiras de Olinda.

Eu não poderia dizer qual foi a primeira vez que ouvi Alceu Valença, a voz dele é tão natural e tão familiar para minhas memórias que não teve um começo especifico, um momento exato. Ele simplesmente existe na minha cabeça desde sempre. E algumas de suas canções, assim como ele próprio, funcionam como um fundo musical intrínseco aos momentos da vida.

Esse momento em especial tem uma canção martelando na minha mente. Como dois animais bate forte e me faz querer parar o mundo e viver um pouco mais.

Uma coisa que tenho muito clara na mente, é que para amar alguém nós temos que nos amar e exercer esse amor incondicionalmente em nossas vidas. Posso soar egocêntrica, mas para mim o amor próprio é essencial. Experimente ficar em um relacionamento com alguém que abdica dos próprios desejos para viver os seus, na teoria isso parece roteiro de romance do século XIX, mas viva isso por algum tempo e você descobrirá o quão enfadonho é. Discordar é saudável, e acredite em mim, fará bem a qualquer relacionamento poder discutir e depois chegar a um acordo. O amor é um consenso entre duas pessoas, que silenciosamente decidiram por estarem juntas na calmaria e na intempérie. Alceu traduziu isso com perfeição

Meu olhar vagabundo de cachorro vadio
Olhava a pintada e ela estava no cio
E era um cão vagabundo e uma onça pintada
Se amando na praça como os animais...

Existe um mistério entre o amor e ódio, um abismo onde habitam as incertezas, os medos e a angústia. Ah.... angústia... o pior dos sentimentos, o sofrer antes da dor, o chorar antes da morte. Mas quando amamos ele parece ser tão inexpressivo. Amor pode nascer em meio à guerra. Amar ultrapassa a inteligência humana. Amar é sobrenatural.

Acredite em mim, você pode amar em meio ao caos, e tudo parecerá inexistente. Se amar como os animais é amar instintivamente, e sinceramente não sei se há outra maneira de amar. Se amar não é um ato instintivo, eu desconheço a outra forma.

Sim, estamos sujeitos a termos os corações dilacerados, isso sempre. Mas de que valeria a vida se não fossem os riscos? E aí é onde mora o amor próprio e o estar bem consigo mesmo. É o saber que o sentimento faz parte e ele poderá existir sem que a concretização ocorra. Porque no final das contas, quando amamos, todos temos um pouco desse cachorro vadio, que espera pelo seu momento de viver por instinto, mas que sabe que precisará ficar pronto para juntar o coração caso se deixe ele em pedaços. Esse é o lugar onde mora a linha tênue entre o amor romântico e o amor próprio.



0 comentários:

Postar um comentário