quinta-feira, 24 de março de 2016

Boy George| Oh Boy...


Meus amigos que me perdoem, mas eu não se posso ficar me quebrando para mantê-los inteiros. E dentro de todo esse processo de amor próprio e afirmação, alguns elementos da minha formação foram muito importantes e um, em especial, foi o maior deles.

Quando eu era criança e estava assistindo a um daqueles Top Top da MTV Brasil eu vi uma das figuras mais intrigantes da minha vida. Era Boy George. Em seu estilo, como o próprio Boy se definiu, Drag Queen judia quase rastafári, George e seu Culture Club entraram na minha vida dessa maneira improvável. Na verdade, ele já era uma figura conhecida aqui em casa, minha mãe nutria por ele um amor platônico, que sinceramente, acho que ainda martela a cabeça dela. Enfim, quando eu tinha uns 13 anos meu armário já tinha mais colagens do Culture Club do que roupas, nada mais simbólico.  

A minha obsessão pelo George pode ser comparada ao meu amor por Maria Bethânia, é algo subliminar, simplesmente eles são símbolos de um grupo ao qual faço parte e arautos de uma resistência nada silenciosa.

Tenho que tomar algumas cervejas para escrever essas linhas, não sei se já consigo lidar tão bem comigo mesma. De alguma maneira as músicas e as performances do Culture Club me libertaram. Você fica lá, adormecida em um casulo e de repente você nasce, e quem lhe pariu foi George O'Dowd.

Cada um tem seus heróis, Batman, Superman, Maomé... o meu é Boy George. Seja um adolescente reprimido e ouça Do You Really Want To Hurt Me, você vai saber do que falo. Se seus olhos não brilharem ao ver a figura magistral do líder do Culture Club você precisar resolver seus problemas com psicanalise.

Essa postagem não é sobre musicalidade, é sobre a libertação de uma alma. As palavras me libertam, posso mostrar minha alma em forma de um texto. Representatividade importa. Uma boneca negra é importante para afirmação de uma criança bombardeada por Barbies, modelos plus sizes importantes na luta contra a ditadura do peso, Boy George foi importante para minha libertação pessoal.

Figura transgressora e desbocada, divino e profano, dono de uma presença única e de uma beleza absolutamente estarrecedora, Boy seria alguém que eu gostaria de fazer uma ode. Quando se tem graças alcançadas acede-se velas, sobe-se morros, eu apenas gostaria de escrever.

Quem nunca escutou Karma Chameleon em um final de festa que atire a primeira pedra, mas para mim é mais do que uma musiquinha animada de festa de anos 80. É um hino. Com certeza não é a melhor música do quarteto inglês, quem conhece um pouco da discografia dos caras sabe disso, mas ela traduz uma felicidade, é como se nada de ruim no mundo pudesse lhe alcançar e você fosse capaz de viver pela eternidade. Como se ninguém pudesse quebrar lâmpadas florescentes em suas costas em um passeio pela Avenida Paulista. Como se você pudesse beijar a pessoa amada e gritar isso para o Universo ouvir.


Meu herói costumou usar maquiagem, não usava capa, mas em seu chapéu judaico parecia carregar toda minha esperança no mundo, um lugar ideal onde não existem as bancadas fundamentalistas no Congresso e onde não se precise lutar por direitos que deveriam ser naturalmente garantidos. Não tenho mais nada a dizer. Precisamos viver mais essas verdades, até o dia em que elas não precisem mais ser ditas como desabafo. 

1 comentários:

Jéssica Ferreira disse...

Emocionante. Forte, contundente e profundo! Linda, você!

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