Meus amigos que me perdoem,
mas eu não se posso ficar me quebrando para mantê-los inteiros. E dentro de
todo esse processo de amor próprio e afirmação, alguns elementos da minha
formação foram muito importantes e um, em especial, foi o maior deles.
Quando eu era criança e estava
assistindo a um daqueles Top Top da
MTV Brasil eu vi uma das figuras mais intrigantes da minha vida. Era Boy
George. Em seu estilo, como o próprio Boy se definiu, Drag Queen judia quase rastafári, George e seu Culture Club entraram
na minha vida dessa maneira improvável. Na verdade, ele já era uma figura
conhecida aqui em casa, minha mãe nutria por ele um amor platônico, que
sinceramente, acho que ainda martela a cabeça dela. Enfim, quando eu tinha uns
13 anos meu armário já tinha mais colagens do Culture Club do que roupas, nada
mais simbólico.
A minha obsessão pelo George
pode ser comparada ao meu amor por Maria Bethânia, é algo subliminar,
simplesmente eles são símbolos de um grupo ao qual faço parte e arautos de uma resistência
nada silenciosa.
Tenho que tomar algumas
cervejas para escrever essas linhas, não sei se já consigo lidar tão bem comigo
mesma. De alguma maneira as músicas e as performances do Culture Club me
libertaram. Você fica lá, adormecida em um casulo e de repente você nasce, e
quem lhe pariu foi George O'Dowd.
Cada um tem seus heróis,
Batman, Superman, Maomé... o meu é Boy George. Seja um adolescente reprimido e
ouça Do You Really Want To Hurt Me,
você vai saber do que falo. Se seus olhos não brilharem ao ver a figura
magistral do líder do Culture Club você precisar resolver seus problemas com psicanalise.
Essa postagem não é sobre
musicalidade, é sobre a libertação de uma alma. As palavras me libertam, posso
mostrar minha alma em forma de um texto. Representatividade importa. Uma boneca
negra é importante para afirmação de uma criança bombardeada por Barbies, modelos plus sizes
importantes na luta contra a ditadura do peso, Boy George foi importante para
minha libertação pessoal.
Figura transgressora e
desbocada, divino e profano, dono de uma presença única e de uma beleza
absolutamente estarrecedora, Boy seria alguém que eu gostaria de fazer uma ode.
Quando se tem graças alcançadas acede-se velas, sobe-se morros, eu apenas
gostaria de escrever.
Quem nunca escutou Karma Chameleon em um final de festa que
atire a primeira pedra, mas para mim é mais do que uma musiquinha animada de
festa de anos 80. É um hino. Com certeza não é a melhor música do quarteto
inglês, quem conhece um pouco da discografia dos caras sabe disso, mas ela
traduz uma felicidade, é como se nada de ruim no mundo pudesse lhe alcançar e
você fosse capaz de viver pela eternidade. Como se ninguém pudesse quebrar
lâmpadas florescentes em suas costas em um passeio pela Avenida Paulista. Como
se você pudesse beijar a pessoa amada e gritar isso para o Universo ouvir.
Meu herói costumou usar
maquiagem, não usava capa, mas em seu chapéu judaico parecia carregar toda
minha esperança no mundo, um lugar ideal onde não existem as bancadas
fundamentalistas no Congresso e onde não se precise lutar por direitos que
deveriam ser naturalmente garantidos. Não tenho mais nada a dizer. Precisamos
viver mais essas verdades, até o dia em que elas não precisem mais ser ditas
como desabafo.
1 comentários:
Emocionante. Forte, contundente e profundo! Linda, você!
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