domingo, 3 de abril de 2016

Doces Bárbaros| Faca Amolada


"Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada"

Na virada do ano eu estava conversando com meu Pai e ele perguntou "Enjoada, quais os planos para 2016?". A resposta foi simples, não deixar nada pra resolver depois e ser muito clara nos meus objetivos. Resumindo: não deixar arestas.

 Sempre fui uma pessoa muito dura, comigo mesma e com os outros, mas minha timidez sempre foi um empecilho para falar a metade das coisas que circulavam minha mente. Mas isso acabou. Não lembro bem qual foi o momento em que a chave mudou o giro, só sei que tem sido terapêutico. E escrever sobre esse processo tem evitado minha prisão e a hospitalização de alguns outros.

 Em 1975, no álbum Minas, Milton Nascimento e Beto Guedes interpretaram a canção que poderia ser o hino para esse momento de virada de mesa. A música sob encomenda. Fé cega, faca amolada é um desses clássicos que uns fazem e outros consagram. Os Doces Bárbaros fizeram essa música ter sentido pra mim.

Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito tranquilo

Desde dezembro venho passando por um longo processo de autoconhecimento, algo que transcende esse plano e que nem é necessário ser explicado. Basta a mim viver esse momento. Dentro de todo esse processo de aprendizagem veio a sensação de que algumas coisas não merecem ser valorada como antes, e principalmente, para a manutenção da paz interior.

Dentro de tudo isso tenho exercitado a minha paciência contra a espetaculização. Sabe, eu tenho tido um sono, um cansaço, uma preguiça para os shows alheios. As vezes tenho vontade de dizer “SEJE MENAS”, mas quando a gente pensa em quantas pessoas não mereceriam carregar essa dor na comanda, aí eu desisto. Não é covardia, é o amar algumas pessoas mais do que amo a mim mesma. O que talvez pareça destoar do meu discurso de amor próprio, mas na verdade é que existem amores para além da explicação humana. Esses merecem o nosso recolhimento e devoção.

Isso me faz pensar na tradição iorubá. Me faz pensar sobre Obá. O quanto nós engolimos o orgulho e nossas dores para não ver doer em quem amamos. Mas ao mesmo tempo, isso não pode esconder o fio da nossa espada, e se preciso for, vamos descer essa faca amolada por entre o peito de quem não respeita nossas dores. É muito palhaço pra pouco circo.

Quando a gente se acha no mundo ficamos destemidos. Cheguei à conclusão que sou muito abençoada por ter a oportunidade de encontrar essa ancestralidade e através disso encontrar a mim mesma. Não acredito que isso tem sido algo de todo bom para os que me rodeiam, porque agora precisam aprender a lidar com alguém muito mais posicionada. Tenho lado e tomo partido.

Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia

No final das contas, eu apenas estou vivendo o que projetei, aqueles desejos de final de ano que nós sempre pensamos que vai ser como a dieta da segunda feira. Mas dessa vez aconteceu. E eu não passaria na frente da minha própria espada. Os dias renascem, a vida também. Mas a alma, ah, alma... essa única, e carrega consigo o aprendizado de seus ciclos.

E no final de tudo, aprendemos que:
Menos espetáculo, mais amor. Menos circo, mais verdade.                              


Para Dona Kaya e seus cabelos prateados, que me fazem ter uma vontade extra de acordar todos os dias.

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