"Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada"
Na virada do ano eu
estava conversando com meu Pai e ele perguntou "Enjoada, quais os planos
para 2016?". A resposta foi simples, não deixar nada pra resolver depois e
ser muito clara nos meus objetivos. Resumindo: não deixar arestas.
Sempre fui uma pessoa muito dura, comigo mesma
e com os outros, mas minha timidez sempre foi um empecilho para falar a metade
das coisas que circulavam minha mente. Mas isso acabou. Não lembro bem qual foi
o momento em que a chave mudou o giro, só sei que tem sido terapêutico. E
escrever sobre esse processo tem evitado minha prisão e a hospitalização de
alguns outros.
Em 1975, no álbum Minas, Milton Nascimento e Beto Guedes interpretaram a canção que
poderia ser o hino para esse momento de virada de mesa. A música sob encomenda.
Fé cega, faca amolada é um desses
clássicos que uns fazem e outros consagram. Os Doces Bárbaros fizeram essa música ter sentido pra mim.
Deixar a sua luz brilhar e ser muito
tranquilo
Deixar o seu amor crescer e ser muito
tranquilo
Desde dezembro
venho passando por um longo processo de autoconhecimento, algo que transcende
esse plano e que nem é necessário ser explicado. Basta a mim viver esse momento.
Dentro de todo esse processo de aprendizagem veio a sensação de que algumas
coisas não merecem ser valorada como antes, e principalmente, para a manutenção
da paz interior.
Dentro de tudo
isso tenho exercitado a minha paciência contra a espetaculização. Sabe, eu
tenho tido um sono, um cansaço, uma preguiça para os shows alheios. As vezes
tenho vontade de dizer “SEJE MENAS”, mas quando a gente pensa em quantas
pessoas não mereceriam carregar essa dor na comanda, aí eu desisto. Não é
covardia, é o amar algumas pessoas mais do que amo a mim mesma. O que talvez
pareça destoar do meu discurso de amor próprio, mas na verdade é que existem
amores para além da explicação humana. Esses merecem o nosso recolhimento e
devoção.
Isso me faz pensar
na tradição iorubá. Me faz pensar sobre Obá. O quanto nós engolimos o orgulho e
nossas dores para não ver doer em quem amamos. Mas ao mesmo tempo, isso não
pode esconder o fio da nossa espada, e se preciso for, vamos descer essa faca
amolada por entre o peito de quem não respeita nossas dores. É muito palhaço
pra pouco circo.
Quando a gente se
acha no mundo ficamos destemidos. Cheguei à conclusão que sou muito abençoada
por ter a oportunidade de encontrar essa ancestralidade e através disso
encontrar a mim mesma. Não acredito que isso tem sido algo de todo bom para os
que me rodeiam, porque agora precisam aprender a lidar com alguém muito mais
posicionada. Tenho lado e tomo partido.
Plantar o trigo e refazer o pão de cada
dia
Beber o vinho e renascer na luz de todo
dia
No final das
contas, eu apenas estou vivendo o que projetei, aqueles desejos de final de ano
que nós sempre pensamos que vai ser como a dieta da segunda feira. Mas dessa
vez aconteceu. E eu não passaria na frente da minha própria espada. Os dias
renascem, a vida também. Mas a alma, ah, alma... essa única, e carrega consigo
o aprendizado de seus ciclos.
E no final de
tudo, aprendemos que:
Menos espetáculo,
mais amor. Menos circo, mais verdade.
Para Dona Kaya e seus cabelos prateados, que me fazem ter uma vontade extra de acordar todos os dias.
0 comentários:
Postar um comentário