terça-feira, 14 de agosto de 2012

Confesso...



Quando eu tinha 7 anos escutei Fafá de Belém cantar Nem as paredes confesso, foi o suficiente para que aquela canção habitasse meu imaginário até os dias de hoje. Naquele doce momento o Fado entrava em minha vida, tornava-se parte de minha alma.
Até aquele dia eu nunca havia ouvido falar em Fado, muito menos sabia quem era Amália Rodrigues, dona da voz responsável por imortalizar Nem as paredes confesso, o Fado não era tocado em minha casa, não foi parte presente em minha infância. Não se escolhe gostar do Fado, ele entra sem pedir licença.
O que mais me toca no fado é que ele me transporta para um passado que não vivi para um Portugal que me parece tão familiar. Ouvi-lo é como escutar os lamentos que ecoam pela Mouraria, suspiros  de almas que cantam e contam a história de um povo.
    
Do Fado Aristocrata de Maria Teresa de Noronha e família ao Fado Menor de Maria Alice- fadista dos anos 20, uma das primeiras mulheres a te sua voz gravada em disco- o fado é a tradução musical daquilo que senti o coração, seja a dor de um povo marcado por segredos, histórias ocultas transcritas em cifras, no choro da guitarra portuguesa que faz pulsar  uma música que tem por vocação ser poesia.
Nesse reino onírico a Rainha Amália nunca perderá o trono. É impossível não chorar ao ouvi lá cantar Povo que lavas no rio em uma Lisboa indissociável do seu Tejo é impossíveis não canta-lo e não a melhor exemplo disso do que  Lisboa a Noite  na voz de Tony de Matos. Lisboa que descansa nos voluptuosos braços de seu Tejo, cidade que ouviu cantar Amália, Tarouca e Mariza. Lisboa é TERRA SANTA e o Fado é sua oração.
Mas, diferente do que muitos pensam, nem só de tristeza vive minha alma fadista, ouço o sorriso da guitarra ao tocar Portela na voz singular de Antonio Pinto Bastos.  Prefiro pensar em Amália, do fado sua majestade. Cantando Fado Português e soando com uma verdade.
“O Fado nasceu um dia,
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
que estando triste cantava.”.

Não sei se o fado nasceu assim. Sei como fado nasceu em mim. De uma canção tão escutada, daquela voz admirada tomou conta de mi. Ai fado, triste, belo e eterno. Foi das melhores descobertas. De seus versos alexandrinos e decassílabos, seu romantismo  arraigado, sua guitarra afinada. Fado de uma voz. Fado de muitas almas.

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