Quando eu tinha 7 anos escutei Fafá de Belém cantar Nem as paredes confesso, foi o
suficiente para que aquela canção habitasse meu imaginário até os dias de hoje.
Naquele doce momento o Fado entrava em minha vida, tornava-se parte de minha
alma.
Até aquele dia eu nunca havia ouvido falar em Fado, muito
menos sabia quem era Amália Rodrigues, dona da voz responsável por imortalizar Nem as paredes confesso, o Fado não era
tocado em minha casa, não foi parte presente em minha infância. Não se escolhe gostar
do Fado, ele entra sem pedir licença.
O que mais me toca no fado é que ele me transporta para um
passado que não vivi para um Portugal que me parece tão familiar. Ouvi-lo é
como escutar os lamentos que ecoam pela Mouraria, suspiros de almas que cantam e contam a história de um
povo.
Do Fado Aristocrata de Maria Teresa de Noronha e família ao
Fado Menor de Maria Alice- fadista dos anos 20, uma das primeiras mulheres a te
sua voz gravada em disco- o fado é a tradução musical daquilo que senti o coração,
seja a dor de um povo marcado por segredos, histórias ocultas transcritas em
cifras, no choro da guitarra portuguesa que faz pulsar uma música que tem por vocação ser poesia.
Nesse reino onírico a Rainha Amália nunca perderá o trono. É
impossível não chorar ao ouvi lá cantar Povo
que lavas no rio em uma Lisboa indissociável do seu Tejo é impossíveis não
canta-lo e não a melhor exemplo disso do que Lisboa a Noite na voz de Tony de Matos. Lisboa que descansa
nos voluptuosos braços de seu Tejo, cidade que ouviu cantar Amália, Tarouca e
Mariza. Lisboa é TERRA SANTA e o Fado é sua oração.
Mas, diferente do que muitos pensam, nem só de tristeza vive
minha alma fadista, ouço o sorriso da guitarra ao tocar Portela na voz singular de Antonio Pinto Bastos. Prefiro pensar em Amália, do fado sua
majestade. Cantando Fado Português e soando com uma verdade.
“O Fado
nasceu um dia,
Quando o
vento mal bulia
E o céu o mar
prolongava,
Na amurada
dum veleiro,
No peito dum
marinheiro
que estando
triste cantava.”.
Não sei se o fado nasceu assim.
Sei como fado nasceu em mim. De uma canção tão escutada, daquela voz admirada
tomou conta de mi. Ai fado, triste, belo e eterno. Foi das melhores descobertas.
De seus versos alexandrinos e decassílabos, seu romantismo arraigado, sua guitarra afinada. Fado de uma
voz. Fado de muitas almas.
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