terça-feira, 7 de junho de 2011

"Amenecí otra vez...."

 Que belíssima surpresa que tive... Eu não tenho duvidas que foi uma benção dos céus essa união. O que era ótimo ganhou tom de contos de fada. 2010 foi o ano do Bicentenário de Independência do México, e a maestrina Alondra de La Parra não apenas rendeu homenagem a nação Azteca, e sim nos brindou com um projeto que mais parece um coro celestial. Poderia ter sido um clichê, mas La Parra e sua Filarmônica das Américas nos trasladam da superfície terrestre para as nuvens. Não há como não se render a batuta inebriante de umas das maiores “conductora” da atualidade, mas isso parecia não ser a bastante, ela parece ter achado “pouco” orquestrar as mais belas canções da musica popular mexicana, tanto não bastou que complementasse com as vozes de três das mais talentosas artistas da terra de Benito Juarez. Ely Guerra, Natalia Lafourcade e Denise “LoBlondo” Gutierrez trataram de arrematar o laço que já se mostrava perfeito.
O Travieso Carmesí surgiu da grande aceitação do projeto de homenagem ao bicentenário, Alondra e Natalia encabeçaram a idéia e convidaram Ely e Denise. Em um primeiro momento tudo poderia ser mais uma daquelas tentativas de repaginar canções (que por sinal já forma mil vezes repaginadas, que o diga Luis Miguel), mas houve magia nessa união, na verdade Deus abençoa quando talentos individuais compartem o que tem de melhor conosco, pobres mortais que raras vezes na vida temos a graça de prestigiar encontros de talentos como esses. Pois bem, Lafourcade foi responsável pela suavidade e humanidade do álbum, posso estar profundamente enganada, mas é dela a parte humana, não de forma comum, e sim porque ela canta com a sutileza de uma criança despretensiosa e doce, o que se torna fofo, “cursi”.  Ela abre o a cd cantando Amanecí en tus brazos, clássico de José A. Jimenez, que por um momento parece ter sido feito para encantar na voz açucarada de Natalia. Mas o momento “fofo” vai para a interpretação de Nat para Farolito, ai! Sinto que em algum lugar na imensidão do céu Agustín Lara estava a tocar seu piano a acompanhando. 
Disse e repito: sou suspeita de falar da voz de Denise! Mas me surpreendi com seu lado “Maria Callas”, do potencial vocal dela eu já sabia, o que eu não sabia era o poder que ela demonstrou em transformar musica em cenas mentais, SIM! Cenas de contos de fada. Meu Deus! Estrellita parece ter saído direto do filme da Cinderela... Ela sem duvidas dá o toque mágico que Alondra concerteza buscou ao convida lá. Em um momento esqueci-me da LoBlondo do Hello Seahorse e “enxerguei” uma solista digna das maiores companhias de ópera do mundo. Ela às vezes parece que não sabe o poder que tem ao abrir a boca, sua voz é uma verdadeira arma capaz de nos mandar para o plano superior antes mesmo do que desejamos...
Ely Guerra... o nome não era novidade, mas a voz  sim. E que voz! Ficou a cargo dela, o que eu considero uma honra, cantar La Llorona. Ma canção de domínio público que me arrepia até a alma quando ouço. E veja que já escutei em todas as versões possíveis: Chavela, Eugenia, Lila... E posso dizer com a mais pura audácia que ela entrou para o hall das grandes interpretes de La Llorrona.  Não sei se foi a orquestra que ajudou, mas parece que essa versão soa mais dramática que as outras. Transformar uma musica que já é puro drama em algo ainda mais doloroso não é fácil, Ely sem duvidas cantou com a alma. Cantou como se fosse uma verdadeira mãe a chorar um filho perdido.
Eu diria que a fita dourada do disco fica para aquela que poderia ter sido a música clichê, ou apenas mais um single a ser regravado, mas como nada foi comum nesse trabalho e Alondra & Cia deram ares de magia a tudo, Solamente Una Vez ganha bossa de nostalgia, larga o ar brega que a foi dado durantes muitos anos de massacres em que vários cantores e “orquestras” a quase transformaram em um símbolo de musica brega. As três vozes se intercalam e parecem fazer parte de apenas de um grande corpo do qual Alondra era responsável pelo pulsar de um coração que devolveu o verdadeiro sentido da canção de Agustín Lara, que agora pode descansar em paz porque em algum lugar viu que sua musica retornou ao seu grande ideal: fazer vibrar corações que desejam amar puramente.

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