Passei parte do dia adiando esse texto, mas sabia que ele
era inevitável. Tenho tido pouco tempo para divagar por aqui, o blog é cheio
dessas interrupções, pequenas e longas pausas e sempre que volto a escrever
algo que é postado sinto que fica evidente em cada texto as transformações da
minha vida. Minha vida transborda entre todas as linhas que já escrevi. Acho
até engraçado quando algumas pessoas dizem que eu sou um enigma, que nunca falo
sobre mim ou que não me conhecem mesmo depois de tantos anos de convívio. Eu não
falo, e isso é um fato, mas eu me deixo ler. Como já diriam alguns teóricos da linguística
e da História, também dizemos muito em meio ao não dito.
Não fui a
criança mais popular da escola, também não fui a adolescente mais descolada,
mas não posso dizer que não tive muitas pessoas ao meu redor. Aos poucos a
gente aprende que a vida é um vai e vem de pessoas, que muitas vezes entram em
nossas vidas, nos marcam e passam. Se tornam memórias boas ou ruins, mas se
tornam parte da nossa história e de todo um processo que é a nossa passagem por
essa vida. Não há como fazê-las ficarem muitas vezes, elas simplesmente ficam o
tempo que for necessário para o nosso aprendizado. Pessoas não são coisas, não
nos pertencem. Elas simplesmente fluem, seguem um ritmo e o caminho que a vida
as destinam. Ninguém entra, passa e marca nossa vida à toa. Pessoas nos ensinam,
seja a cair ou a levantar, mas elas nos ensinam
Sou avessa
a telefonemas, as crises de depressão muitas vezes não me fazem ter a menor
vontade de sair e claro que tudo isso faz com que muitas pessoas me entendam
como uma descompromissada com os vínculos de amizade. Tudo bem, as entendo, de
fato deve ser muito difícil de lidar, não parece que sirvo para amizade, mas
pareço um criptograma ambulante. Essas pessoas simplesmente passam, como já
havia de certa forma explicado acima.
Sendo quem
eu sou, rabugenta, supersticiosa, idealista e um par mais de coisas que ninguém
normalmente tá muito afim, eu não tenho mais que uma mão de amigos. Sim, uma
mão, pois conto nos dedos de uma mão e nem sei se posso dizer que é uma mão
cheia.
Há alguns
anos eu ficava imaginando que as poucas pessoas que eu de fato poderia chamar
de amigas de fato ficariam na minha vida. Em um determinado momento eu até
cheguei ao ponto de querer me acostumar com a falta dessas pessoas, porque não
sabia se poderia contar com elas, porque para algumas pessoas a amizade termina
na virgula.
Esses dias
eu estava assistindo um desses filmes imortais que na infância passaram mil vezes
na famigerada Sessão da Tarde. Conta Comigo foi um desses clássicos do
final dos anos 80 que moldaram uma geração de adolescentes e crianças. Mas o
que sempre me fez lembrar do filme não era a história em si, mas a música homônima
que estava na soundtrack.
If the sky that we look upon
Should tumble and fall
Or the mountain
Should crumble to the sea
I won't cry, I won't cry
No, I won't shed a tear
Just as long as you stand
Stand by
me
Stand
by me foi escrita em 1960 por Ben E. King, dono da voz que
também a imortalizou. Gravada no disco Don't
Play That Song!, em 1961, é uma canção que fluem entre o R&B e o Soul.
A música já foi inúmeras vezes regravada, desde John Lennon a Prince Royce. Alguns
versos na música remetem a trechos do Salmo 46 (Portanto não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os
montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se
perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza).
É uma
música romântica, mas é impossível não a associar também a uma amizade com a qual se pode
contar em todos os momentos. Assim como aos poucos descobrimos que algumas
pessoas nos marcam e passam, também nos encontramos com aquelas ou aquela que
indubitavelmente podemos contar sempre (e oxalá, para sempre). E é por essas pessoas que vivemos e não
podemos deixar de acreditar na vida.
Uma certa
tarde, há algum tempo, sentei em um café com uma amiga. Eu estava vivendo um
dos momentos mais complicados que a vida já me apresentou e tudo na minha mente
era ainda tão desorganizado, confuso. Ela só sentou lá e esperou a tarde inteira
para que eu falasse. Não falei, simplesmente porque não tinha palavras. Eu
tinha medo, porque a gente as vezes se acostuma em meio as pessoas que são
nossos “amigos” até o porém. Temos medo do julgamento. Naquela tarde eu
descobri na prática o significado da palavra amigo. Aprendi com ela que amizade
não é sobre frequência de palavras trocadas ou a quantidade de vezes que vamos
nos encontrar, mas sobre a certeza e a segurança de que o respeito, o carinho e
a compreensão não são negociáveis.
Sobre a minha definição de
amigo:
Amigo: pessoa que se faz entender em meio ao silêncio, que
chora pela dor que não sente e carrega consigo angustias, sabores e dessabores
de um outro ser. Indivíduo que ama sem porém, frase onde não se usa virgula.
Que as
pessoas se respeitem mais, que se amem mais e que valorizem os momentos, porque
a eternidade vive neles. A gente nunca sabe o nosso verdadeiro significado para
existência de alguém, ou como nossas palavras de conforto, nosso silencio
acolhedor ou nosso abraço pode mudar o dia de alguém.
1 comentários:
É isso, querida. Amizade é uma complicação. Mas é muito bom. É o melhor dos amores.E você coloca em palavras muito bem, talvez o que esteja em seus silêncios. Bjs.
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