Tudo
que é ruim passa, mas o que é bom é datado também. A diferença são as memórias
que ficam. O que foi ruim vai sem deixar saudades, porém ficam marcas profundas
na maioria das vezes. O que foi bom, do nosso agrado, fica salvo na lembrança
como o indicio da felicidade. Fica no exalar do perfume, na letra da canção,
numa camiseta amassada no fundo do guarda-roupa, ou simplesmente no instante
silencioso que traz como um flash
aquilo que se viveu. Mas não sejamos reféns do passado.
Escrevo esse texto antes de
qualquer coisa para mim mesma. Esses dias me peguei remoendo memórias de uma
relação de uns 3 anos atrás, e isso martiriza um bocado, porque a gente se pega
idealizando com o nosso famigerado “e se..?”. E se um caralho, meus amigos. Sejamos
gratos por cada coisa boa que nos ocorre, mas não os idealizemos, porque a
probabilidade de “quebração” de cara é enorme. As impossibilidades das relações
e das oportunidades que não rolaram tem seus porquês. Se você tentou o melhor
que poderia naquele momento e as coisas simplesmente não aconteceram, então
aquilo não era seu, aquele não era o seu momento. A gente não precisa ser
religioso pra acreditar que tem coisa que não pode ir pra frente por
simplesmente não ser a hora de acontecer ou não ter que acontecer.
E com relação as experiências
ruins, não precisamos nos privar do sofrimento. Amoitar sofrimento é como
tentar conter o curso de um rio. Eu sou a maior especialista em amoitar
sentimento que você respeita. Minha mãe costuma dizer que eu me fecho em uma
concha. É horrível viver assim, gera uma amargura e nos impede de enxergar as
possibilidades nos acontecimentos. Fazer de conta que coisas ruins não
aconteceram não pode ser uma alternativa. Se permita sentir, não tenha vergonha
disso. Tenho tentado aprender a viver essa permissão.
Nunca
vi chorar tanto por alguém
Que
não te quis, deixe estar
Que
ele vai voltar, louco pra te ver
Então
verá, que você cresceu
E
apareceu em seu lugar
E
hoje está louca pra sair
Sem
saber que horas vai voltar
Já escrevi sobre o 5 a Seco em outra postagem, eles estão
aqui novamente através da letra de Deixa
Estar, mas a voz que deu vida a essa canção na minha memória foi Luíza
Possi. A música é de 2011, Luíza colocou sua pegada em cima da letra sempre
realista dos caras do 5 a seco. O que
eu particularmente gosto das letras deles é que não tem muita firula, sem
invenção, é na lata. E Luíza é poder, né mores? Essa música encaixa
perfeitamente nas propostas musicais que a gente já conhece dela.
Deixa
estar é aquela sacudida de poeira que todo mundo precisa na
vida. É um diálogo, daqueles que só uma pessoa que tá de fora da situação pode
jogar umas verdades na nossa cara. É certo que muitas vezes a gente pega ranço
dessas verdades, porque de fato elas estão ligadas a coisas que são obvias para
gente também. É, muitas vezes a gente permanece na merda pelo medo de dar o
passo a diante por mais que a relação já esteja desgastada, ou já seja algo
fadado a dar errado. Todo mundo vê, sabe, comenta, te fala, aconselha, mas não
tem jeito. Você, por orgulho ou pretensão, não toma uma decisão de findar essa
marmita de ontem que se tornou esse relacionamento.
Eu
quero mais é te ver na pista da vida
Dançando
sem parar
Eu
quero mais é sumir com as pistas
De
onde ele foi parar
A vida tá ai pra ser vivida. Com
as amarguras e com as delicias de cada instante, se apresenta como uma dádiva diária.
E temos sempre que desejar e experimentar essa entrega. Na privação do ser,
deixamos passar o que de fato importa: a eternidade de cada momento. Que nos
joguemos mais nas experiências. Por esses dias, me bateu uma aflição quando
percebi que eu não tenho uma bucket list. Deve ser meu sol em Touro e
ascendente em Capricórnio. Mas na verdade, eu sempre pensei nos meus desejos
como coisas que para muitos poderiam ser triviais. O conforto de um refúgio, o
dinheirinho para descobrir novos lugares e me jogar em paradas gastronômicas e
ter o cheirinho de um outro alguém no lado esquerdo da cama. Mas até esses
sonhos, ditos simples, já são motivos para mover e levantar para enfrentar a
jornada todos os dias. A gente se motiva com o que tem.
A gente gosta de complicar. Isso
é tão intrínseco a nossa existência. Complicar é como um velho desafio contra
nós mesmos, onde tentamos nós provar que estamos errados. Olha que parada
louca. Temos tudo que precisamos, mas nos falta a humildade de entender e
assumir que erramos. Não tem nada de vergonhoso em assumir que precisamos dar
meia volta ás vezes. A gente tem que admitir que entramos em furadas, o
vergonhoso é não se permitir sair delas. A gente tem muita pretensão em achar
que podemos moldar as pessoas aos nossos gostos e que elas vão mudar sempre
porque acreditamos ser o melhor para elas. Isso só prova o quanto achamos que
somos mais do que realmente nossa mãe pariu.
Se
ele não ligou, nunca te escreveu
Não
vai prestar, chega aqui
E
eu vou te falar o que você sempre quis ouvir
Deixa
isso pra lá
Que
isso não pode ficar assim
Põe
um fim
Ele
vai voltar louco pra te ver
E
então verá
O que falta é amor próprio. Não
podemos confundir o lado pretensioso que temos com amor próprio. Tá cheio de
gente por aí que acha que é a dose de dipirona da vida de alguém, mas que na
verdade não consegue lidar nem com a própria realidade. Rupaul já nos ensinou que “if you don't love yourself how in the hell you gonna love somebody else”.
Mas
é uma peleja diária, amor próprio e aceitação não brotam no canequinho com algodão
e broto de feijão, mas é um exercício. Tem que começar em não remoer os
fracassos. Se vier na cabeça, se bater na porta, se passar na rua ou ouvir na
rádio, simplesmente deixe passar. Tudo passa.
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