Não sei mais se o relógio continua
na mesma batida. O passo acelerado nas ruas e os pneus cantando no asfalto
parecem nos mostrar como estamos sendo atrasados, um passo atrás. A vida tirou
o Coelho e seu relógio dos livros de Lewis Carroll e o trouxe diretamente para
nossos ouvidos. O cotidiano regido pelos horários, agendas e calendários rabiscados
de eventos parecem buscar preencher o vazio de nossa inquietude pessoal. Os cabelos
brancos chegam mais cedo do que antes, a sensação de fracasso também.
A crise dos 30 encurtou para
os 25, e aos 16 parece que os adolescentes já estão a cometer um pecado capital
se não souberem o que cursar, com o que trabalhar e para onde ir. A geração fast food também precisa engolir sem mastigar
seus medos, angustias e as crises depressivas cada vez mais constantes e precoces.
Precoce, por sinal, é um termo que precisa ser revisto já que nessa “sociedade
do ontem”, onde o agora já parece ser tarde demais para os sonhos e
expectativas, o que taxava muitos como “adiantados” agora já soa como a
normalidade de um sistema que suprime infâncias, negocia adolescências e nos
entrega aos lobos na juventude.
Um outro dia uma ex-aluna me
enviou uma mensagem em meio a uma crise de ansiedade, parei e ouvi. Sei bem
como são esses episódios, pois eles se repetem na minha vida como comedia
barata na Sessão da Tarde. Quantas vezes já não fui eu implorando pelo conselho
da minha orientadora em meio a uma crise que não me deixava escrever? Muitas,
contando as vezes que foram e os momentos que ainda virão. Mas voltando a minha
ex-aluna, ela não tem sequer 17 anos e já sente nos ombros e na mente uma
responsabilidade que não pertence a ela, porém massageia o ego dos que a
cercam.
De um lado os pais esperam que
os filhos se tornem o diploma pendurado na parede da sala, a satisfação de ter “formado”
um ser humano que carrega consigo valores e algum relativo sucesso, o que os
fazem envaidecidos como a vitória de sua própria criação. É um extinto de sobrevivência,
querendo mostrar que sua prole pode prevalecer e seguir em frente nos jogos
vorazes da vida comandada pelo capital. Os pais precisam de filhos médicos,
advogados e engenheiros para que sejam honra à sua própria consciência. Vivemos
em um mundo que repete o cachorro Mutley em seu eterno desejo por medalhas.
Professores cada dia mais
transformam seus alunos em parte de sua jornada pelo marketing pessoal. Um aluno
aprovado no vestibular pode ser a propaganda de um trabalho que pode ser
pautado em números. Dessa maneira, tem se tornado comum a cobrança excessiva em
detrimento a qualidade de vida dos alunos, pois o “sucesso” desse aluno também
passou a ser o troféu da consciência de alguns profissionais.
Não estou aqui dizendo que
deve haver um relaxamento, muito pelo contrário. Eu apenas acredito que a busca
pelos números frios e aprovações de encomenda estão em um crescente. E em meio
a isso tudo, em meio a angustia de minha aluna eu pergunto: qual o problema de descobrir
no meio da graduação que não era aquilo que você queria para sua vida? Qual o
problema dos recomeços? Qual o pecado em não concluir a graduação aos 23 anos
ou de não estar em um mestrado em imediato ao termino da graduação? Queremos a
velocidade da realização de uma vida que não é nossa, queremos a concretização
de sonhos que não temos em nossas mentes. A verdade é que nossa sociedade se tornou
tão superficial que chegamos ao ponto de perder nossos nomes para dar lugar as
famigeradas “doutoras”, “mestras” ou “excelências”. Perder nossa identidade faz
parte do kit consagração social, perder nossos nomes e trocar por coisas
impessoais é um preço caro e que muitos exercem a compra com sorrisos nos lábios
sem saber o real valor da cobrança final.
Em meio a tudo isso, eu sempre
me deparo com manchetes indignadas com o fim “precoce” da carreira do Adriano,
ele mesmo, o Imperador. Fico me perguntando o porquê de as pessoas não
conseguirem aceitar o fato do cara não querer mais a vida midiática. O pecado
do Adriano é ter abnegado do futebol profissional para voltar para a comunidade
e passar o resto do tempo lá com as pessoas que o viram antes que ele deixasse
de ser só o Adriano para carregar a alcunha de Imperador. Pesado.
Enfim, a vida é um sopro e tem
se arrastado em dores causadas pela angustia que cerca a vida de pessoas com
crises de ansiedade. Talvez tenha se tornado um caminho sem volta, provavelmente
a geração milênio vai ter de pagar essa conta com juros altíssimos para poder
não ser o motivo do “fracasso” que leva aos risos das tias em almoço de
domingo. Provavelmente, não farão nada só por si, mas primordialmente para
dizer que podem, já que a vida passou a ser tratada como mais um estágio no
videogame. Meu único apelo é: vocês não são, nem precisam ser, troféus da consciência
de ninguém.
1 comentários:
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