sexta-feira, 15 de julho de 2016

Crônica| O que te faz perder o sono?


Algumas madrugadas são mais longas que as outras. Há dias que a insônia se torna uma parceria inevitável. Isso pode acontecer por motivos diversos, inquietações dão o tom. Nessas horas, esvaziar a mente pode ser a única solução para transpor a alta voltagem que nos põe a divagar noite a dentro. Esvaziar a mente pode representar se encher de si mesmo.

Leituras, sons e escrita formam a tríade do meu sério relacionamento com a insônia. As madrugadas são de um silêncio tão profundo que podemos ouvir o eco das nossas mentes, o que pode trazer à tona uma avalanche de emoções e memórias. Mas não há nada que possa ser feito, refletir sobre isso tudo é a única forma de apaziguar as descargas elétricas que nos acendem nesses momentos.

As Ibeyi são a quebra do silêncio hoje. Stranger/Lover toca repetidamente e expõe alguns conflitos internos. No final das contas fazer uma varredura nessa casa com tantos cômodos, a chamada consciência, se torna muito mais fácil enquanto a única zoada possível é do ventilador.

No one is wrong or right
I want to end our fight
Let's dance our way into the light
We never saw inside
Love is not what has failed
Why can't we both be saved?

Bem, as vezes a vida nos oferece uns choques elétricos. Tenho agradecido por todos, mas não quer dizer que é fácil de lidar. Hoje fiquei aqui pensando que nós temos o dom de complicar coisas simples, temos a tendência aos caminhos mais íngremes e acentuados. Por que não enxergar o óbvio? Por que não tentar o simples? Repelimos o óbvio porque temos medo da felicidade.

A felicidade é algo que todos procuram, mas morrem de medo de encontrar, porque no fundo não sabemos lidar com ela. O temor de tê-la, finalmente, e depois correr o risco de perde-la acaba nos jogando na inércia. Quando Lispector escreveu Felicidade Clandestina, ela falou sobre o quanto não nos sentimos dignos de sentir a felicidade, como ela se torna algo clandestino para nós. As vezes fazemos de conta que não a temos para depois ter a sensação de nos alimentar dela em pequenas porções.

A gente prefere sofrer por coisas fadadas ao desastre, porque a dor já é uma velha companheira. Nos amarramos nas nossas próprias dores por julgar que algo diferente disso não pode ser nosso. A felicidade não é resultado da cura das nossas dores, mas sim a permissão de nos livrarmos delas. Ser feliz, no final das contas, não é o “tudo deu certo”, mas o “eu me permiti”.

Today is a new day
We'll throw our regrets away
For the older games we played
We have already paid


Hoje eu fiquei aqui pensando que tudo pode ser mais fácil se nós cultivarmos o que nos faz bem, e não termos medo a ponto de correr e repelir isso. Enfim, o nosso silêncio da madrugada é resultado do barulho da nossa mente ao tentar acomodar tudo em seus espaços. São arrumações necessárias. 

0 comentários:

Postar um comentário