Algumas
madrugadas são mais longas que as outras. Há dias que a insônia se torna uma
parceria inevitável. Isso pode acontecer por motivos diversos, inquietações dão
o tom. Nessas horas, esvaziar a mente pode ser a única solução para transpor a
alta voltagem que nos põe a divagar noite a dentro. Esvaziar a mente pode
representar se encher de si mesmo.
Leituras,
sons e escrita formam a tríade do meu sério relacionamento com a insônia. As
madrugadas são de um silêncio tão profundo que podemos ouvir o eco das nossas
mentes, o que pode trazer à tona uma avalanche de emoções e memórias. Mas não
há nada que possa ser feito, refletir sobre isso tudo é a única forma de
apaziguar as descargas elétricas que nos acendem nesses momentos.
As
Ibeyi são a quebra do silêncio hoje. Stranger/Lover
toca repetidamente e expõe alguns conflitos internos. No final das contas fazer
uma varredura nessa casa com tantos cômodos, a chamada consciência, se torna
muito mais fácil enquanto a única zoada possível é do ventilador.
No one
is wrong or right
I want
to end our fight
Let's
dance our way into the light
We
never saw inside
Love
is not what has failed
Why
can't we both be saved?
Bem,
as vezes a vida nos oferece uns choques elétricos. Tenho agradecido por todos,
mas não quer dizer que é fácil de lidar. Hoje fiquei aqui pensando que nós
temos o dom de complicar coisas simples, temos a tendência aos caminhos mais íngremes
e acentuados. Por que não enxergar o óbvio? Por que não tentar o simples?
Repelimos o óbvio porque temos medo da felicidade.
A
felicidade é algo que todos procuram, mas morrem de medo de encontrar, porque
no fundo não sabemos lidar com ela. O temor de tê-la, finalmente, e depois
correr o risco de perde-la acaba nos jogando na inércia. Quando Lispector
escreveu Felicidade Clandestina, ela falou sobre o quanto não nos sentimos
dignos de sentir a felicidade, como ela se torna algo clandestino para nós. As
vezes fazemos de conta que não a temos para depois ter a sensação de nos
alimentar dela em pequenas porções.
A gente
prefere sofrer por coisas fadadas ao desastre, porque a dor já é uma velha
companheira. Nos amarramos nas nossas próprias dores por julgar que algo diferente
disso não pode ser nosso. A felicidade não é resultado da cura das nossas
dores, mas sim a permissão de nos livrarmos delas. Ser feliz, no final das
contas, não é o “tudo deu certo”, mas o “eu me permiti”.
Today
is a new day
We'll
throw our regrets away
For
the older games we played
We
have already paid
Hoje
eu fiquei aqui pensando que tudo pode ser mais fácil se nós cultivarmos o que
nos faz bem, e não termos medo a ponto de correr e repelir isso. Enfim, o nosso
silêncio da madrugada é resultado do barulho da nossa mente ao tentar acomodar
tudo em seus espaços. São arrumações necessárias.
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