terça-feira, 28 de junho de 2016

PRIDE| Meus Sons


Música faz parte da minha memória afetiva. Eu consigo dividir minha vida em três grandes períodos musicais: Marisa Monte, RHCP/Culture Club e Maria Bethânia/Gal Costa. É como se a vida ganhasse uma trilha, e como se cada tom fosse uma passagem. Não seria possível descrever o hoje e meus sonhos sem pensar em músicas, até para meu estado de espirito e comunicação a música fala sempre melhor do que minhas próprias palavras. Melhor do que dizer, falar, tratar de sentimentos, eu deixo músicas, elas falam por mim. E hoje ela fala sobre orgulho, afirmação e amor.

Eu cresci ouvindo Marisa Monte, foi a primeira coisa que me lembro de saber sobre música. O intuito era me acalmar, era eu como se fosse ainda bebê, ficando tranquila. Verde Anil Amarelo Cor de Rosa e Carvão me leva de volta para a infância. Para uma fase antes dos 6 anos, antes de um monte de coisas se bagunçar na vida. É uma inocência, mas ao mesmo tempo uma força. Marisa era a voz da minha consciência. Ela me pariu musicalmente.

A adolescência veio. Não acredito que seja uma fase fácil para ninguém, é a época das incertezas, dos medos e da contestação. Não foi diferente para mim, e nem poderia ser. O desenrolar desse período ainda reverbera na minha vida. Dos 12 anos para frente tudo foi e é mais ondulado, mais instável. Não me queixo, aprendi a lidar com meus próprios fantasmas desde muito cedo. E de certa forma, acredito que esses pesadelos pessoais também fomentaram quem eu sou hoje. Aprendi a ter gratidão até pela minha própria desgraça. Não é resignação, é simplesmente get over.

E foi nessa época que o Rock deu o tom. Era como colocar para fora toda minha ânsia de vômito. Escutar todo aquele peso para fazer transpirar minha indignação.  Foi bem difícil, era bem mais fácil não ter passado, mas eu passei e estou aqui bem consciente de que foi como vencer uma maratona tendo fascite plantar.

Red Hot Chilli Peppers foi o som de tudo isso, dessa confusão interna e externa que era viver em meio a esse turbilhão de coisas. RHCP sempre foi a representação da audácia e da quebra de etiqueta. Era bem isso que eu queria para minha vida naquele momento. Era uma vontade enorme de dizer um foda-se bem grande para a humanidade. Até hoje Fortune Faded ainda me dá vontade de sair correndo chutando lixeira.

Ainda assim, tive um contraponto gigantesco nessa época: foi quando eu conheci o Culture Club, e quando Boy George foi morar no meu armário. Minha mãe foi uma das minhas influências musicais – foi, porque hoje ela não se permitiria aceitar esse fato -, e com ela as músicas dos anos 80 entraram no repertório da casa. The Cure, U2, Depeche Mode, REM, Legião Urbana, Cazuza e todas as coisas “descoladas” que fariam sentido na formação da minha identidade. Mas sem dúvida conhecer o trabalho do Culture Club foi como levar uma porrada no meio da cara e mesmo assim ficar maravilhada.

Boy George não é na minha cabeça coisa de festa ploc. Ele é uma entidade, sagrado demais para entrar em lugar comum na vida. Quando eu tinha 13 anos, colei no meu guarda-roupas uma foto dele em preto e branco, hoje acho que errei, ele merecia ter cores na foto. Mas a minha vida ainda era como aquela imagem de Boy George em p&b, era algo não descoberto. Ainda assim, ele precisava ficar me lembrando isso. Se Marisa Monte foi quem pariu minha fome por música, Boy George pariu meu anseio por liberdade.
Entre meus 16 e 19 anos o negócio foi confuso demais para ter música para dar conta. Foi uma confusão mental tão grande que nem eu consigo lembrar de qualquer coisa referente a essa fase. Anos de identidade bem reprimida, fuga.

E agora, aos 20 e poucos eu poderia dizer que meus ouvidos se abriram para todos os sons de Bethânia e aos tempos psicodélicos e geniais de Gal. O orgulho pessoal que tomou conta de mim, o que chamariam de empoderamento, ganhou cores, 7 cores. Com a vida saindo do preto e branco ficou mais fácil enxergar o mundo ao meu redor e ouvir os sons que estavam adormecidos aqui dentro. A gente se deixa a mercê da leveza.


Eu venho me deixando apaixonar, me permitindo sentir raiva também. A frustração as vezes pede passagem, mas o orgulho, ah... esse fica comigo de um jeito que não sai mais. Quando a gente toma conta de si e do que é nosso papel e lugar na sociedade, nada mais pode nos fazer voltar atrás. A revolução interna é um caminho sem volta. E foi com todos esses tons, do preto, do branco e das sete cores, que eu me formei. Trilhando meu caminho com todos esses sons, os meus sons.  

1 comentários:

Suzana Veiga disse...

Sete virtudes, sete pecados, sete braços da menorá, sete dons, sete chacras, sete notas musicais, sete estágios para o nirvana, São 7 as cores do Arco-Íris. Pride, my luv.

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