Tem dias que a gente não sabe
o que dizer. Hoje eu fiquei sem palavras. Foi um dia com sabor estranho,
diferente. Teve outros sons, outras cores, e nada do que estava planejado nesse
espaço/tempo aconteceu. Experimentei minha própria companhia, sorri sozinha. Me
dei o direito ao ridículo e chorei como criança que descobre a vida pela
primeira vez. Foi um dia agridoce.
A inquietude que dominou minha
manhã me levou a oscilar entre Cultura e
Civilização, de Gal Costa e o álbum Dois
amigos um século de música, dos geniais Gil e Caetano. De um lado um
espirito querendo vibrar bem alto ao som psicodélico de Gal. A outra parte de
mim queria serenidade. Hoje foram vários anos em um dia. Foi como estar dentro
de um labirinto em mim buscando não a saída, mas um começo. Tudo muito intenso,
tudo muito louco, tudo muito agitado.
No caminho pra casa e na
expectativa do almoço com as companhias mais lindas que a vida poderia me
presentear, fui ouvindo Rihanna. We Found Love sempre será a música que me
leva de volta para 2012, me joga para meu descobrimento pessoal. Um dia preciso
escrever sobre essa música e a que ela me remete. Mas por hora, podem saber que
ela significa liberdade para mim.
Uma parada no supermercado.
Agitação, filas e treta no estacionamento, era o prenúncio de que os planos
tomariam outros rumos. Sai de lá. Olhei para o celular e vi uma série de
mensagens nas redes sociais. Eu sabia o que elas queriam avisar. Fechei os
vidros e me permiti. Alice Caymmi cantou Iansã
e eu desejei poder ter meu pai Tiago de volta porque um dos dias que ele mais
sonhava havia chegado. Como um raio é intenso, me deixei fluir. Chorar não é
algo fácil para mim, mas simplesmente corriam lágrimas no meu rosto e deixei
cair uma por uma até que eu tomasse novo fôlego. Cheguei em casa.
Não dava para cozinhar. Eu só
poderia ficar sentada na poltrona, atônita, e tudo que eu desejei foi um
abraço. Não deu. Quis o destino, que é capcioso, que eu ficasse comigo mesma.
Enquanto cozinhei meu almoço escutei Bethânia e Ivete Sangalo se derramarem com
Muito Obrigado Axé. Restaurei as
forças.
Me dei a chance de sorrir.
Assisti as bobagens e cafonices diárias da TV. Me senti viva. Foi uma sensação
única. Foi como permitir pequenos prazeres, sem culpa. Zero, de Liniker, tocou e eu tive doces e dourados pensamentos. Me
fez pensar sobre uma Vésper feroz que agita minhas ideias. Me banhei e me
deixei cochilar.
O dia que planejei foi
diferente do dia que vivi. Não podemos cobrar tanto da vida, as pequenas
felicidades são vitorias diárias em meio a tantas agruras. Um novo caminho se
projeta, e mesmo que eu ainda não possa mensurar aonde tudo isso pode me levar
não quero o alvoroço ou o medo do que não se vive. Tenho pavor da presunção
humana em definir as rotas do futuro como se fossem estradas de ferro. A vida é
cortada por caminhos diversos. Ora é asfalto, leve e liso. Mas também pode se
apresentar como rotas lamacentas. Às vezes a vida tem som de festa, por vezes
prefere o silêncio. O sabor, esse nunca será o mesmo. Ele é acentuado por
nossas aflições e euforias. Quando tudo isso se encontra, surgem os dias
agridoces.
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