sexta-feira, 24 de junho de 2016

Playlist| A playlist para um dia agridoce



Tem dias que a gente não sabe o que dizer. Hoje eu fiquei sem palavras. Foi um dia com sabor estranho, diferente. Teve outros sons, outras cores, e nada do que estava planejado nesse espaço/tempo aconteceu. Experimentei minha própria companhia, sorri sozinha. Me dei o direito ao ridículo e chorei como criança que descobre a vida pela primeira vez. Foi um dia agridoce.

A inquietude que dominou minha manhã me levou a oscilar entre Cultura e Civilização, de Gal Costa e o álbum Dois amigos um século de música, dos geniais Gil e Caetano. De um lado um espirito querendo vibrar bem alto ao som psicodélico de Gal. A outra parte de mim queria serenidade. Hoje foram vários anos em um dia. Foi como estar dentro de um labirinto em mim buscando não a saída, mas um começo. Tudo muito intenso, tudo muito louco, tudo muito agitado.

No caminho pra casa e na expectativa do almoço com as companhias mais lindas que a vida poderia me presentear, fui ouvindo Rihanna. We Found Love sempre será a música que me leva de volta para 2012, me joga para meu descobrimento pessoal. Um dia preciso escrever sobre essa música e a que ela me remete. Mas por hora, podem saber que ela significa liberdade para mim.

Uma parada no supermercado. Agitação, filas e treta no estacionamento, era o prenúncio de que os planos tomariam outros rumos. Sai de lá. Olhei para o celular e vi uma série de mensagens nas redes sociais. Eu sabia o que elas queriam avisar. Fechei os vidros e me permiti. Alice Caymmi cantou Iansã e eu desejei poder ter meu pai Tiago de volta porque um dos dias que ele mais sonhava havia chegado. Como um raio é intenso, me deixei fluir. Chorar não é algo fácil para mim, mas simplesmente corriam lágrimas no meu rosto e deixei cair uma por uma até que eu tomasse novo fôlego. Cheguei em casa.

Não dava para cozinhar. Eu só poderia ficar sentada na poltrona, atônita, e tudo que eu desejei foi um abraço. Não deu. Quis o destino, que é capcioso, que eu ficasse comigo mesma. Enquanto cozinhei meu almoço escutei Bethânia e Ivete Sangalo se derramarem com Muito Obrigado Axé. Restaurei as forças.

Me dei a chance de sorrir. Assisti as bobagens e cafonices diárias da TV. Me senti viva. Foi uma sensação única. Foi como permitir pequenos prazeres, sem culpa. Zero, de Liniker, tocou e eu tive doces e dourados pensamentos. Me fez pensar sobre uma Vésper feroz que agita minhas ideias. Me banhei e me deixei cochilar.

O dia que planejei foi diferente do dia que vivi. Não podemos cobrar tanto da vida, as pequenas felicidades são vitorias diárias em meio a tantas agruras. Um novo caminho se projeta, e mesmo que eu ainda não possa mensurar aonde tudo isso pode me levar não quero o alvoroço ou o medo do que não se vive. Tenho pavor da presunção humana em definir as rotas do futuro como se fossem estradas de ferro. A vida é cortada por caminhos diversos. Ora é asfalto, leve e liso. Mas também pode se apresentar como rotas lamacentas. Às vezes a vida tem som de festa, por vezes prefere o silêncio. O sabor, esse nunca será o mesmo. Ele é acentuado por nossas aflições e euforias. Quando tudo isso se encontra, surgem os dias agridoces. 

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