segunda-feira, 13 de junho de 2016

Maria Bethânia| A tempestade em mim anda mansa



Sabe a beleza? Me encanta. Mas não a beleza purista, estética. O mistério me arrebata. Eu gosto mesmo é do enigma, do sussurro. Eu sou de trovoadas e tempestades, mas por hora, estou mansa como água de rio, de rio lento. Eu estou numa fase de mudanças, como diria Dona Kaya, eu estou no portal. Não sei o que me espera do outro lado, mas sei muito bem o que quero encontrar.

Em 2006, Maria Bethânia trouxe à existência o Mar de Sophia, álbum no qual tenho agora mergulhado e que traz o encontro da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen e o cancioneiro de Capinam e outros grandes mestres da música brasileira. É um mergulho em meio à nossa gênese ibérica e nossa mestiçagem ritmada no samba. É o Recôncavo descobrindo a Lusitânia poética.

Então, eu tenho estado toda boba. Em meio a todos os atos de horror que seguem e colocam em cheque a humanidade desse Ser a quem denominam humano, eu tenho me jogado em uma onda de amor sem fim. Sei lá, isso não é apenas uma representação de amor romântico, isso é o aflorar da sensibilidade. Como diria a letra de Beira-Mar, “dentro do mar tem rio”.


Dentro da dor a canção
Dentro do guerreiro flor
Dama de espada na mão
Dentro de mim tem você

Eu sempre fui alguém de poucas palavras e muita observação. Mas ser mansa nunca foi uma questão, porém sempre preferi me recolher por saber que os enfrentamentos seriam caóticos em meio à minha falta de tato nas disputas. Agora estou aqui, ouvindo repetidas vezes Bethânia e sentindo como se estivesse na hora dos meus raios e trovões encontrarem água.

Quando tudo que a sociedade quer nos oferecer é ódio, o amor e o querer dar amor vira revolução. Eu estou sentindo essa alma revolucionária espreguiçar dentro de mim e dizer “acorde e vá viver. Se jogue”. Enfim, eu quero. Amar em tempos de guerra de egos, injustiça e medo é como tentar hastear bandeira branca em meio a fogo cruzado. Mas eu sempre me identifiquei com o arquétipo da dama de espada na mão, e nessas horas, a espada desce para se enlaçar com o coração.

Mar,
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Sophia de Mello, 1944.



Eu estou aqui, esperando a jornada. Já briguei com minhas feras internas e tenho buscado aguçar os sentidos, agora só me falta pôr tudo isso a prova. De qualquer maneira, o sorriso está aqui. Resistir infinitamente ao ódio e ao pavor tem sido o mantra. Se descobrir, descobrir esse Mar e desbravar seus encantos podem estar do outro lado do portal, eu só hei de descobrir se aceitar o caminho. Eu aceito o destino de amar em tempos revoltos. Eu aceito o rio que tem se oferecido a mim na imensidão desse mar de incertezas, faz parte da jornada do louco se arriscar na margem do precipício.

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