sábado, 25 de junho de 2016

Liniker| Meu tato exagerado e meus ouvidos românticos


Me matem, mas não tenho jeito. Eu continuo atrelando música a pessoas. Eu poderia ser cega, mas ainda teria cheiros e sons para me fazer pensar em sorrisos. Às vezes me pego sorrindo sozinha, paro e penso “que merda que eu tô fazendo. De novo”, mas é mais forte e mais intenso do que eu. Existem chuvas e tempestades, e quando entramos nelas, mesmo sem saber a intensidade que ela pode ganhar ou estrago que pode fazer só temos certeza de uma coisa: quem entra na chuva vai se molhar.

Zero, de Liniker é o hino dá vez. Nem precisamos dizer o quanto Liniker como não binário já é uma lindeza de ser humano, uma desconstrução em forma de pessoa. Dentro das discussões de Identidade de gênero fica impossível não pensar sobre sua figura majestosa e seu ativismo. É um Santo Lacry- como já diria- em meio a tanta notícia ruim, preconceito e claro, os closes errados.

Mas não estou aqui me derramando para escrever sobre o tema citado acima, deixo isso para uma outra oportunidade, essa voz forte e profunda tem andado comigo em meus ouvidos como um post-it grudado na parede. É como um recado de como por mais grotesca que eu seja ainda existe uma sensibilidade em mim. O risco de quebrar a cara em mil pedaços sempre existe, está sempre aqui nos meus ombros me lembrando o quanto eu posso está profundamente enganada, mas eu tenho ouvidos românticos.


A gente fica mordido, não fica?
Dente, lábio, teu jeito de olhar
Me lembro do beijo em teu pescoço
Do meu toque grosso, com medo de te transpassar


A verdade é que não tenho muito jeito. Sou sutil como uma panda gigante. Mas esse é o meu jeito de tocar, não sei dosar a intensidade, não sei brincar muito de esconde-esconde. Por trás da pessoa que cauteriza ferimento com faca quente tem um coração e mente repletos de intensidade. Sou a pessoa dos relacionamentos longos e cheios de sonhos e planos, que normalmente não saem do mundo das ideias, mas que me conduzem para uma entrega. Às vezes me sinto bastante idiota, mas logo percebo que isso me faz bem, me mantem livre dos pesos que a vida já me faz carregar. Sem extremismos, apenas sou alguém que valoriza os pequenos momentos.

Essa minha falta ou excesso de tato me faz assustar as pessoas. Talvez as pessoas estejam acostumadas com os flertes silenciosos, com a sedução burocrática. Eu sou uma pessoa meio esparramada mesmo. O silêncio para mim é só o da observação, mas quando o assunto é romantismo eu sou um trio elétrico. É o meu toque grosso.


Deixa eu bagunçar você, deixa eu bagunçar você
Deixa eu bagunçar você, deixa eu bagunçar você
A gente fica mordido, não fica?


Às vezes tudo é uma questão de sair da zona de conforto, algo que uma das partes ou ambas as partes da história precisam fazer. É um processo de permissão, de liberação. Não é um casamento, é a chance de se permitir. As vezes a felicidade está tão próxima, mas por algum motivo a gente se prende as amarguras para não querer toca-la. Por vezes a gente se arrepende, mas a pior lembrança sempre será a de não ter tentado.


Enfim, existem umas bagunças necessárias em nossas vidas, eu estou passando por uma. É uma arrumação caótica, mas que tem sido belíssima. Mas estou tentada a aumentar essa bagunça. Tem sido um recomeço, em todos os aspectos. Eu fechei algumas portas e as tranquei, mas estou prontinha para, se necessário for abrir outras e ladrilhar caminhos novos. A palavra de ordem é permissão. 

1 comentários:

Pandora disse...

Descobri Liniker há pouco tempo, Zero é uma musica linda... Como amar com intensidade, com um toque grosso que abarca o mundo, sem sutilezas ou medidas... Esse conceito não me é estranho porque é assim que amo meus livros, minha escrita, minha docência, até minha pesquisa de historiadora esquecida nas prateleiras de alguns...

Também fechei portas em minha vida, entendo de fechar portas... doí demais... algumas coisas na verdade só me causam do quando respiro e a dor virou companhia... hahahaha... não desejo isso a ninguém... se permita Alice... abra outras portas... mesmo quando não exista parede porque ai é caminho livre!

Cheros e obrigada pela poesia de sábado!

Postar um comentário