quinta-feira, 21 de abril de 2016

Gal e Bethânia| Amor de Terceira Margem


Eu sempre brinco que devemos procurar um amor que nos olhe como Gal Costa olha para Maria Bethânia enquanto cantam Esotérico (confiram no Youtube as gravações de 76 e 2002). Grande bobagem. Quiseram os deuses que eu não atrelasse mais Esotérico aos olhares de Gal e Bethânia, e sim, ao amor mais lindo que vi em toda minha existência.

A gente cresce idealizando pessoas, idealizando amores e sonhando viver um. Eu tive a benção de ver um desses amores que enche nossos olhos de lágrimas e nossos corações de esperança. Antes que me perguntem, não, eu não era protagonista nessa história, mas de certa forma essa história de amor se entrelaça com minha vida, quase sendo ela o ethos da minha existência como alma.

“Não adianta nem me abandonar
Porque mistério sempre há de pintar por aí
Pessoas até muito mais vão lhe amar
Até muito mais difíceis que eu pra você”

As vezes o curso da história não é bem o esperado, aquele curso para o qual torcemos. Não é um amor de margem esquerda, não é um amor de margem direita. É amor de terceira margem. Amor que não cobra, amor que dói de saudade, mas que sem se perceba. É amor que não cabe em uma vida, e por isso há de se restaurar pela eternidade. É puro, e ao mesmo tempo se inflama. É amor para quem tem entendimento.

Eu tendo a pensar que era um amor que de tão livre, não poderia carregar rótulos. Não haveria círculos de ouro ou prata suficientes para prender entre os dedos. Foi nessa vida o amor do silêncio. Já aprendemos com a literatura que alguns amores nascem para ser Tristão e Isolda... Abelardo e Heloisa.

“Se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais
Mistério sempre há de pintar por aí
Não adianta nem me abandonar
Nem ficar tão apaixonada, que nada
Que não sabe nadar
Que morre afogada por mim”


Se posso eu lhe dizer algo de alento, esse amor não morre. A vida brinca com esse menino travesso chamado destino e nos apronta das suas, mas existem barreiras que a perda não transpõe, não acaba e não cessa. Os olhos mais amorosos do mundo sempre estarão lá para fazer a alma desse Tristão se aproximar de sua Isolda. E nessas horas surge o que é incompreensível para nós, os espectadores. Não foi e não há de ser jamais coisa finita. Os palmos do chão não enterram o que almas sentem. O amor que me fez não foi um amor esotérico, foi e sempre será, simplesmente, amor. 


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