Aprendemos
com a TV que dezembro tem cara de retrospectiva. Fazer balanços do ano já se
tornou uma tradição implícita na demanda popular. A cada ano se repetem as
ladainhas da dieta nova que precisa ser feita, dos projetos que não se
concluíram e que precisam ser concretizados no ano que vai se iniciar. Dezembro
sempre é um misto de lamentação pelos feitos não alcançados e promessas pelos planos
desejados.
É bem
verdade que se criou um simbolismo enorme nessas datas, um rito de passagem que
envolve memórias, histórias e recomeços. Mas no final do dia, foi apenas mais
um ano, mais um trecho de canção mal ou bem cantada. Só mais um caminho cheio
de aridez ou ladrilhado. Não sei, cada um tem seu ano, suas experiências e
viveu nele a parte que lhe cabia nesse latifúndio. Como já me disse a senhora
dos cabelos cor de prata “a gente acaba por coloca peso nas coisas”. A gente ressignifica
e põe sentido naquilo que nos convêm e nos que desagradam. A gente se
reinventa, e isso é bom, mesmo que para isso a dor se torne apenas cicatriz e a
tristeza se transforme em lembrança.
Lembranças,
talvez seja a palavra que melhor possa definir esse ano para mim. Nada de
nostalgia dolorosa, mas a memória do que de tão bom não poderia ir, mesmo em
meio a tanta porrada. É coisa de dentro, como os sabores da infância, os sons
da adolescência e os prazeres que a juventude nos proporciona. São coisas que a
gente não desliga ou apaga da mente, simplesmente relembra a cada gatilho
disparado.
If you
could
I know
that you'd stay
We
both know
Things
don't work that way
I
promised I
Wouldn't
say goodbye
So I
grin
And my
voice gets thin
Em
meio a essas lembranças estão aquelas que gostaríamos de ter a eternidade para
senti-las. Não é tristeza, é saudade. Cada um manifesta no seu tempo e do seu
jeito. Eu sempre fui uma pessoa silenciosa, ninguém me ensinou que era melhor
observar mais e falar menos, eu simplesmente nunca suportei qualquer tipo de
exposição. Mesmo sendo professora e tendo que lidar com as demandas acadêmicas,
ainda tenho crises de ansiedades terríveis para falar em público.Então,
sempre fui a ouvinte.
Em meio a todos os fatos e a minha natureza, desde fevereiro vi tudo virar de cabeça para baixo, inclusive em ver que o meu silêncio tinha se tornado um turbilhão transposto em ideias e palavras, mesmo que em meio a um público que tem a síndrome de Zé das Medalhas. Mesmo com todo recolhimento, sempre vão haver momentos de parar e respirar para não pirar. Isso nada tem a ver com as lembranças, pois elas nos afagam, isso tem a ver com a falta de sensibilidade e noção das pessoas que estão ao nosso redor. Mudar o disco, o ritmo e sorrir mais, mesmo em meio ao caos, tem sido uma boa saída. Talvez as pessoas não percebam que não precisam mexer com ferida para que ela melhore, basta deixar ela quietinha cicatrizando no seu tempo.
Em meio a todos os fatos e a minha natureza, desde fevereiro vi tudo virar de cabeça para baixo, inclusive em ver que o meu silêncio tinha se tornado um turbilhão transposto em ideias e palavras, mesmo que em meio a um público que tem a síndrome de Zé das Medalhas. Mesmo com todo recolhimento, sempre vão haver momentos de parar e respirar para não pirar. Isso nada tem a ver com as lembranças, pois elas nos afagam, isso tem a ver com a falta de sensibilidade e noção das pessoas que estão ao nosso redor. Mudar o disco, o ritmo e sorrir mais, mesmo em meio ao caos, tem sido uma boa saída. Talvez as pessoas não percebam que não precisam mexer com ferida para que ela melhore, basta deixar ela quietinha cicatrizando no seu tempo.
Joanne traduz minha voz
engasgada. Em outubro, Lady Gaga lançou seu quinto álbum e eu que sempre fui
quase apática para os trabalhos dela – com exceção do disco Cheek
to Cheek em parceria com Tony Bennett- tive que parar e ouvir, mas
ouvir repetidamente e nem tão parada assim. Diamond
Heart, AY-O e Dancin' in Circles
já se tornaram hinos e são capazes de arrancar qualquer pessoa da monotonia.
Mas é um trabalho muito para além do “fervo”, tem uma profundidade que vai da
sensualidade à reflexão. Em meio a essa reflexão, encontramos a saudade.
A
canção que dá nome ao álbum soou como um abraço apertado em manhã de sábado
para mim. Não se trata apenas do segundo nome na certidão de nascimento de Stefani
Germanotta, mas sim uma homenagem a sua tia falecida em decorrência do lúpus. A
faixa título, que tem a pegada country que Gaga derramou por todo esse
trabalho, não é questionamento post
mortem, mas um diálogo de despedida. É um ter de dizer adeus sem o desejo
de deixar ir. Ao mesmo tempo que existe a angustia pela partida, por toda a
incerteza que isso envolve, deixar ir representa libertação. É dar a liberdade
para quem precisa partir e é entender que os que ficam precisam seguir.
Honestly
I know where you're goin'
And
baby you're just movin' on
And
I'll still love you even if I can't
See
you anymore
Can't
wait to see you soar
Não é
um até breve, não é um já volto, é simplesmente seguir e cultivar as memórias.
O amor, assim como a lembrança, não pode ser levado de nós, até porque não são
matéria, são a sutileza do nosso ser.
Muitas
músicas rolaram, textos também, mas nenhuma poderia traduzir de melhor forma
esse “agora”. A vida é marota, ela nos deixa provar da felicidade e memorizar
bem suas nuances, mas ela não nos prepara para a despedida. Como lidar? Cada um
aprende com suas experiências, a minha é silenciosa, mas revolta dentro de mim.
Vida
que segue...
1 comentários:
Parabéns Alice,as saudades são laminas afiadas por de mais,o vazio é ocô,o silêncio doído,mas o amor e a satisfação de ter tido nos alavanva para este mundo. Beijo
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