terça-feira, 28 de junho de 2016

Rihanna| Uma cena, alguns sons e a minha liberdade



Sabe a sensação de estar em meio a uma multidão e sua concentração vidrar em uma cena? Parece coisa de filme, mas não foi. Em setembro de 2012, em plena Avenida Boa Viagem, eu escutei uma música, vi uma cena e senti algo que nunca mais me abandonaria. Eu tive a sensação de que eu havia me encontrado, o que é estranho, porque às vezes a gente se afirmar na vida desde cedo, é como se a nossa personalidade já estivesse toda lá e nós já fôssemos aquele projeto pré-pronto de ser humano, que não muda, que não se reinventa. Naquele dia eu descobri que eu precisava me reinventar, mesmo que fosse um processo longo e doloroso. Assim foi e ainda é.

Rihanna é daquelas artistas que você poderia jogar em meio a uma sacola de nomes da música pop e achar que é mais do mesmo, pelo menos foi assim que parecia quando ela surgiu. Mas ela parece ser desses seres humanos que nunca estão satisfeitos, inquietos e mutantes, daqueles de onde o óbvio nunca pode sair, alguém que nunca pode ser encontrada no lugar comum. Ela não é uma artista embalada a vácuo no freezer do show business, ela tem vida e espaço próprio.

A cena que eu avistei em 2012 pode ter sido simples na visão comum, mas para mim ela teve um significado. Se tratava de uma Drag Queen performando à frente de um trio elétrico na Parada da Diversidade. Naquele dia, minha mãe havia sido escalada para trabalhar, e tudo que eu poderia fazer era sentar no Parque Dona Lindu e esperar. Quando We Found Love tocou, a sensação era de que a energia daquelas pessoas emanava por aquele lugar, e a Drag dançava como se só existissem ela e o som. Aquela imagem nunca mais saiu da minha cabeça. A sensação vibra aqui dentro ainda, todos os dias que eu preciso lembrar que eu não posso parar.


Yellow diamonds in the light
And we're standing side by side
As your shadow crosses mine
What it takes to come alive


Nessa canção, que é uma parceria com o midiático Calvin Harris, Rihanna canta um refrão bem repetitivo, mas de uma verdade gigantesca. We found love in the hopeless place, sim, é nesses lugares inesperados que habitam os caminhos que a gente precisa trilhar. Isso foi bem real na minha vida no final daquele mesmo ano, e continua fazendo sentido até hoje. Não há explicações que possam dar conta de certos acontecimentos nas nossas vidas, a matéria não define e não pode ser conceituado. Tenho medo disso às vezes. Porque as nossas vidas acabam nos levando para situações desconfortáveis, mas que mais na frente podem ter um sentido, mesmo que abstrato. Como conceituar a maneira que uma performance mudou algo aqui dentro? Sendo crua, parece surreal, mas para mim faz tanto sentido que não me vejo na obrigação de explicar, apenas de expressar.


Shine a light through an open door
Love and life I will divide
Turn away cause I need you more
Feel the heartbeat in my mind


Eu não sou uma pessoa confiante em mim mesma. Nunca fui. Preciso ser desafiada constantemente para lutar. Isso em qualquer área da minha vida. É estranho, porque as pessoas compram imagens e estereótipos e parece que temos por obrigação afagar o ego delas sendo justamente como essas projeções. Então deixe-me dizer uma coisa: eu vou decepcionar você. Eu tenho mais medo de machucar as pessoas do que das minhas próprias feridas, sempre foi assim. No amor, por exemplo, eu nunca acho que aquele flerte pode dar certo, ou que estou sendo interpretada no que realmente quero. Eu não consigo enxergar com segurança a certeza, eu sempre tateio a dúvida. A dúvida e o medo de não machucar as pessoas andam de mãos dadas comigo.  

Então, quando eu vi aquela cena, eu tive um surto de liberdade. Não a liberdade de emancipação física, mas a liberdade de sentir de fato quem eu era. Foi como se a ficha tivesse caído e agora eu poderia tentar seguir meu próprio caminho. E esse sentimento me toma pelos braços sempre que eu escuto as primeiras “batidas” dessa música. Foi em um lugar incomum, de um jeito 

3 comentários:

Suzana Veiga disse...

É nos lugares não esperados que encontramos amor. Lindo texto, como sempre, sis <3

Na Nossa Estante disse...

"Liberdade - essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!" (Cecília Meireles) <3

Liny1690 disse...

I am the same way.. full of doubt about myself and hurting people.. maybe one day I'll have an epiphany too

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