Sabe a
sensação de estar em meio a uma multidão e sua concentração vidrar em uma cena?
Parece coisa de filme, mas não foi. Em setembro de 2012, em plena Avenida Boa
Viagem, eu escutei uma música, vi uma cena e senti algo que nunca mais me
abandonaria. Eu tive a sensação de que eu havia me encontrado, o que é
estranho, porque às vezes a gente se afirmar na vida desde cedo, é como se a
nossa personalidade já estivesse toda lá e nós já fôssemos aquele projeto
pré-pronto de ser humano, que não muda, que não se reinventa. Naquele dia eu
descobri que eu precisava me reinventar, mesmo que fosse um processo longo e
doloroso. Assim foi e ainda é.
Rihanna
é daquelas artistas que você poderia jogar em meio a uma sacola de nomes da
música pop e achar que é mais do
mesmo, pelo menos foi assim que parecia quando ela surgiu. Mas ela parece ser
desses seres humanos que nunca estão satisfeitos, inquietos e mutantes,
daqueles de onde o óbvio nunca pode sair, alguém que nunca pode ser encontrada
no lugar comum. Ela não é uma artista embalada a vácuo no freezer do show business, ela tem vida e espaço
próprio.
A cena
que eu avistei em 2012 pode ter sido simples na visão comum, mas para mim ela
teve um significado. Se tratava de uma Drag
Queen performando à frente de um trio elétrico na Parada da Diversidade.
Naquele dia, minha mãe havia sido escalada para trabalhar, e tudo que eu
poderia fazer era sentar no Parque Dona Lindu e esperar. Quando We Found Love tocou, a sensação era de
que a energia daquelas pessoas emanava por aquele lugar, e a Drag dançava como se só existissem ela e
o som. Aquela imagem nunca mais saiu da minha cabeça. A sensação vibra aqui
dentro ainda, todos os dias que eu preciso lembrar que eu não posso parar.
Yellow
diamonds in the light
And
we're standing side by side
As
your shadow crosses mine
What
it takes to come alive
Nessa canção, que é uma
parceria com o midiático Calvin Harris, Rihanna canta um refrão bem repetitivo,
mas de uma verdade gigantesca. We found
love in the hopeless place, sim, é nesses lugares inesperados que habitam
os caminhos que a gente precisa trilhar. Isso foi bem real na minha vida no
final daquele mesmo ano, e continua fazendo sentido até hoje. Não há
explicações que possam dar conta de certos acontecimentos nas nossas vidas, a
matéria não define e não pode ser conceituado. Tenho medo disso às vezes.
Porque as nossas vidas acabam nos levando para situações desconfortáveis, mas
que mais na frente podem ter um sentido, mesmo que abstrato. Como conceituar a
maneira que uma performance mudou algo aqui dentro? Sendo crua, parece surreal,
mas para mim faz tanto sentido que não me vejo na obrigação de explicar, apenas
de expressar.
Shine a light through
an open door
Love and life I will
divide
Turn away cause I need
you more
Feel the heartbeat in
my mind
Eu não sou uma pessoa
confiante em mim mesma. Nunca fui. Preciso ser desafiada constantemente para
lutar. Isso em qualquer área da minha vida. É estranho, porque as pessoas
compram imagens e estereótipos e parece que temos por obrigação afagar o ego
delas sendo justamente como essas projeções. Então deixe-me dizer uma coisa: eu
vou decepcionar você. Eu tenho mais medo de machucar as pessoas do que das
minhas próprias feridas, sempre foi assim. No amor, por exemplo, eu nunca acho
que aquele flerte pode dar certo, ou que estou sendo interpretada no que
realmente quero. Eu não consigo enxergar com segurança a certeza, eu sempre
tateio a dúvida. A dúvida e o medo de não machucar as pessoas andam de mãos
dadas comigo.
Então, quando eu vi
aquela cena, eu tive um surto de liberdade. Não a liberdade de emancipação
física, mas a liberdade de sentir de fato quem eu era. Foi como se a ficha
tivesse caído e agora eu poderia tentar seguir meu próprio caminho. E esse
sentimento me toma pelos braços sempre que eu escuto as primeiras “batidas”
dessa música. Foi em um lugar incomum, de um jeito
3 comentários:
É nos lugares não esperados que encontramos amor. Lindo texto, como sempre, sis <3
"Liberdade - essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!" (Cecília Meireles) <3
I am the same way.. full of doubt about myself and hurting people.. maybe one day I'll have an epiphany too
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